A gaivota de Santo Ildefonso
Jan Muá
Porto, 14 de abril de 2018
Bonita cinza e pujante
A Gaivota sempre estava por ali de atalaia
E insistia em se acercar da vitrine
Onde havia bolo e pasteis de nata apetitosos
Ficava olhando ao longe de soslaio
E de quando em quando esvoaçava para perto da vitrine
Só encontrando resistência na voz e na ação do Garcez que falava com ela de igual para igual
-Sai, xus!
Mas ela insistia
E enquanto o Garcez repetia xus
Ela, furtivamente, dava umas corridinhas para alcançar a doçaria exposta
Por vezes o Garcez atendia-a com a gorjeta de umas migalhas caídas das mesas dos clientes da pastelaria
E neste vaivém quotidiano, a Gaivota Bonita cinza e pujante mantinha com o Garcez uma relação de vigilància de amor e de desconfiança
Até que um dia o Garcez que era seu patrono se distraiu quando foi atender um freguês e a Gaivota Bonita cinza e pujante avançou por uma das prateleiras abertas da vitrine e pegou e segurou no bico o maior pedaço de bolo que ali havia fazendo cá fora com outras gaivotas cúmplices à s bicadas um banquete de festa de fim de semana dando um prejuízo de dez euros e meio à pastelaria
Despesa que o Garcez teve de pagar ao patrão em nome de sua protegida Gaivota bonita cinza e pujante!