A Cigarra e a Formiga
Junto com algumas crianças comecei a freqüentar a casa de Madame Patural, francesa que veio morar em Taubaté. Alta e magra, jovem ainda, vivia com o marido numa casa perto do hospital.
Logo na entrada havia um jardim e ao lado, um pequeno quintal. Dentro da sala poucas peças formavam o mobiliário e o que me chamava mais a atenção era um piano sempre aberto. Era diante dele que ela se sentava para as lições. Falava conosco em francês, e nos ensinava canções apropriadas para nossa idade. Virava-se para o piano e tocava, para que a acompanhássemos, cantando. Isso era terrível para mim, porque, mesmo pequena, eu já havia tomado consciência da minha desafinação. Ela me aconselhava a soltar a voz, mas... ai, que dificuldade!
Sempre que eu chegava para as aulas, via seu marido, Jean Pierre, de cabelos escuros e faces coradas, trabalhando no quintal. Atarefado, cortava pranchas de madeira, lidando com muitas ferramentas. Martelando. Eu olhava, olhava, sem entender do que se tratava. Mesmo lá de dentro ouvíamos as marteladas. De vez em quando ele abria a porta e trocava algumas palavras com a mulher, e nós boiando, não compreendíamos nada.
De qualquer modo, aprendi a letra de várias musiquinhas do folclore francês.
Aprendi também a recitar a fábula da Cigarra e a Formiga: "La cigale ayant chanté tout l´été..."
Beatriz Cruz |
