Hoje resolvi escrever sobre ‘escrever’. É que sentei o dia inteiro na frente do PC sem conseguir resultados muito positivos e daí pensei pela enésima vez: Por que escrever? Ao que parece, no Brasil atual, há mais gente escrevendo do que gente lendo…..um paradoxo, mas o Brasil é assim. Há também, nesse país, mais editoras do que livrarias. Outro contra-senso.
Que razão tem levado tanta gente a escrever sabendo que a chance de ser lido é parca, remotíssima. A de ser publicado, nem se fala. É verdade, há a internet onde posso publicar esse texto no momento mesmo em que colocar o ponto final. Copio, colo e pronto, lá estará ele disponível para o mundo. Para o mundo que lê em português, digo, e esse mundo não é grande, infelizmente.
Na procura de uma luz li, pelo menos umas dez vezes, o curto ensaio ‘Why I write’, de George Orwell. Ele, tampouco, consegue explicar essa obsessão, a questão continua em aberto ao final do ensaio. Quando parece que ele tinha a resposta, dá em debandada….
Não sem antes enumerar e explicar quatro ‘grandes motivos’ que, por assim dizer, guiam um escritor.
O primeiro deles é ‘Puro egoísmo’, o segundo, ‘entusiasmo estético’, o terceiro, ‘impulso histórico’, o quarto ‘objetivos políticos’. As proporções de cada um desses motivos vão variar dependendo do tempo e da pessoa. Para G. Orwell prevalece o quarto, evidentemente, e ele acrescenta que a cada vez que se afastou desse objetivo, produziu livros sem vida, frases sem sentido, passagens ‘afetadas’, etc.
Ele escreve ainda ‘All writers are vain, selfish and lazy, and at the very bottom of their motives there lies a mystery.’
Há tantos livros esperando para serem lidos que, ainda que nos fosse dado uns cinquenta anos extras, não poderíamos completar a tarefa. E ainda há aqueles anos que a gente reserva às releituras, obviamente. Então, por quê? Por que gastar tantas horas escrevendo sobre o meu umbigo? As margaridas que enfeitam o jardim da vizinha? A prima ranzinza e careca?
Dizem que escrever pode nos transformar em melhores leitores. Ou seria o contrário?
Enfim, pessoalmente, nesse momento o que experimento é uma espécie de dependência da escrita. Fico mal, sofro, me irrito com as pessoas que, sinto, estariam ‘roubando’ o meu tempo. Tempo que eu deveria estar usando para dizer o quê? Tempo que dedico a uma arte que não me alimentará se amanhã eu tiver que depender dela, uma arte incerta e cruel. ‘…..there lies a mystery.’
O ano está chegando ao fim, vou acrescentar àquelas famosas listas de ‘objetivos para o ano próximo’ uma cura, uma desintoxicação e vou partir para outra. ‘E como farei ginástica/Andarei de bicicleta/Montarei em burro brabo/Subirei no pau-de-sebo/Tomarei banhos de mar!…..Esperem pra ver.
Mas……como ninguém nunca cumpre o que escreve nestas listas……
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