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Cronicas-->2. DESAFETOS IMPRODUCENTES -- 10/07/2001 - 07:52 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Certamente, quando tiver de voltar à Terra para nova encarnação, deverei esmerar-me para superar algumas malformações de caráter, tendo em vista que não consigo me desfazer de certas sensações desagradáveis que nutro em relação a certos indivíduos que nada fazem para minorar os sofrimentos de todos, pois estão impregnados por profundo ódio. Como eu também não tenho muita paciência, vou ficando para trás, já que não consigo estabelecer critérios válidos para considerar os desafetos como pessoas carentes de compreensão.

Não sou mau, mas também não tenho desenvolvido o sentimento do perdão, conforme já puderam bem entender os leitores.

Quando estive internado na carne, não me considerava boa pessoa, ao contrário da presente opinião, pois me afetava com verdadeiro orgulho, por conseguir dos parentes e companheiros que me obedecessem quase cegamente, caso contrário, impunha-lhes severas restrições quanto aos direitos, tendo chegado várias vezes às vias de fato.

Não estou tentando esconder nada, como é o hábito dos que são forçados moralmente para depoimentos a respeito das más ações. É que tenho a convicção bem formada, no sentido de perceber que tudo o que disser poderá ser usado contra mim ou a meu favor, conforme a impregnação da verdade for maior ou menor. Por isso, não me resguardo, abrindo inteiramente o coração.

De qualquer forma, tendo confessado alguns deslizes importantes, não teria cabimento que escondesse algum fato fundamental, como furtos, assaltos a mão armada ou assassinatos, mesmo que involuntários. Não matei, não roubei, nem procedi indignamente contra o património público. Mas sofri enormemente, como se tivesse feito tudo isso, tantos foram os desarrazoados gestos contra as pessoas.

Era tido e havido como violento, conforme a descrição preponderante da personalidade do amigo Vitório (ver mensagem anterior), mas não dei curso a essa intemperança de caráter até o final dos dias, pois me alistei entre os amigos de um centro espírita, onde aprendi muitos dos conhecimentos superiores da doutrina. Não tive, contudo, tempo para pór tudo em prática, despedindo-me do mundo com muitas mágoas no coração, feridas abertas pelos revides mais que naturais dos companheiros atingidos pela antiga fúria.

Filhos, noras e genros, netos e demais parentela, quando levaram meu corpo à sepultura, praguejavam baixinho contra mim, confirmando que não havia feito valer o aprendizado derradeiro dos mandamentos cristãos, pelas suaves explicações dos kardecistas.

Internei-me na escuridão do Umbral por tempo bastante longo, uma eternidade, se contar que não tínhamos como avaliar as transformações orgànicas dos que ficaram para trás, ponto de apoio para a contagem do tempo em dias e anos dos terrestres. Posteriormente, fiquei sabendo que foram quinze os anos, mas não sei se foi exatamente assim, ou se houve algum encolhimento, para que pudesse volver a tempo de verificar que as lembranças que deixei persistiam inalteradas na memória daqueles desafetos, que, pelos procedimentos tão duros, tão inflexíveis, tão demarcados pelo ódio e pela revolta contra as minhas ações, em nada me ajudavam naquele transe que me enchia de sofrimentos pela angústia de me ver perdido na escuridão, quando bem poderia ter tido outro destino, se tivesse conseguido sofrear os impulsos malévolos da personalidade.

Preocupa-me, sobremaneira, o fato de que possam os leitores estar perguntando-se:

- E eu com isso?... Terei de ficar lendo palavras tão chochas, tão insignificantes, tão imbecis? Que lições poderei extrair desse emaranhado de confissões e relatos incoerentes, sem se fixar numa historinha que viesse a configurar as ações reais, como uma recriminação maldosa, uma proibição inoportuna, uma agressão injustificável?... Ainda mais agora, quando até palavras nos meus lábios se derramam, inconsequentemente, como se todas as reações das pessoas pudessem ser medidas ou controladas a distància, como se o autor pudesse, oniscientemente, conhecer até o público a quem se dirige...

Se forem esses os pensamentos, estarei perdendo precioso tempo. Todavia, pelo menos o grupo que me acompanha sabe que todos estamos no mesmo barco, necessitados do apoio uns dos outros, para adquirirmos forças morais com que enfrentar as provações dos sofrimentos, pois o que mais nos apavora em tais condições é sermos afastados daquele conjunto de seres com quem vínhamos crescendo, a duras penas, na maior parte das vezes, mas com quem, de alguma forma, mantemos alguns laços afetivos.

Eis declarado o principal objetivo dos trabalhos de assimilação dos princípios evangélicos, qual seja, o de que todos temos de efetuar a recuperação dos vínculos que se deterioraram por incúria, quando o que se tinha em mira para o encarne era o congraçamento e a superação das pequenas ou grandes diferenças, pois têm os espíritos de se justificar perante o Criador, para que venham a merecer alguns recursos mais com que lidar consigo mesmos e com os semelhantes.

- É importante restabelecer os laços familiares? Não seria melhor esquecer as pessoas que nos ferem tão agudamente, formando outro grupo de amizades, como este mesmo que se está congraçando nessa sala de aula?

São questões que, presumimos, os leitores estarão fazendo. O que não sabem, evidentemente, é que as ações e reações geram compromissos entre os indivíduos e seus grupos, pois a lei de justiça do Pai é inexorável, no sentido de que todos os débitos devam ser saldados, para que as pessoas possam progredir. Ora, se há empecilhos para que as pessoas se harmonizem, teremos de buscar as soluções cabíveis para essas desavenças e demais formas de separação. Quando obtivermos sucesso e todos se ajustarem em torno dos mesmos ideais, evidentemente, procurarão continuar caminhando juntos, pois haverá, necessariamente, crescimento afetivo, a se impor pela compreensão das contexturas psíquicas e dos eventos em que se aplicaram para os efeitos que tão desastrosamente provocaram os litígios.

Sabemos que, para os encarnados, pode até parecer muito poética a dissertação, pois, diante da realidade terrena, os fatos são mais positivos, no sentido de que o que está feito não pode ser reparado, a menos que se estimulem os sensores evangélicos, a desencadearem reações puramente morais, sem envolvimentos emotivos de mau caráter, que têm o vezo de impedir que as pessoas ajam só filosoficamente, na aplicação integral das diretrizes estabelecidas pelas virtudes.

Ainda assim, seremos tidos como idealistas, como utópicos, como sonhadores? Paciência! É o que estamos, nós mesmos, tentando eliminar da mente, atrasada por séculos e séculos de malversação energética, porque sempre quisemos preponderar sobre os demais.

Não pensem que este seja o primeiro curso que estou frequentando. Os males estão tão ferrenhamente arraigados na personalidade, que até posso considerar-me muito feliz por estar tendo estas oportunidades de reflexão, com a ajuda, evidentemente, dos protetores familiares, que jamais se desesperam, pois conhecem-nos a todos muito profundamente e sabem que a luz se fará, dada a persistência de sua colaboração.

Tendo tantos esclarecimentos, por que não anulamos de vez as más tendências? É que os conhecimentos não bastam para a efetivação das mudanças íntimas, as quais, por sua vez, determinarão as transformações de comportamento para melhor. Enquanto não extinguirmos todo o ódio, não instalaremos o amor no coração.

Entretanto, sempre será bom ouvir a voz da consciência, que nos repete incansavelmente:

- João, você está perigosamente jogando com os conceitos, esquecido até dos sofrimentos. Não será bem melhor o dia em que todas as virtudes preponderarem na personalidade? Não será bom exterminar com a malícia, que você vai deixando transparecer até nesta mensagem, em que afirmou que iria expor só as verdades de suas realizações? Não sente você certo pejo em ficar dando tantos conselhos, buscando cumprir os programas delineados pelos mentores, quando se afasta das atividades que lhe dariam mais segurança no trato amorável com os desafetos? Por que você os considera improducentes, sabendo, iniludivelmente, que a melhoria dos relacionamentos depende, em grande parte, das reformas interiores? Será que você está esperando que tudo caia do céu?...

Não sei se esta confissão traz o cunho da emoção, pois muito meditei para torná-la o mais próximo possível das vibrações íntimas da consciência. Em todo caso, que sirva como modelo para os que se dispuserem a enfrentar os artifícios mentais com que mascaram as reais tendências das personalidades, para o efeito da consagração de seus princípios como os mais satisfatórios na consecução dos desejos.

Assinalam-me que está na hora de suspender as considerações, pois me deixei levar pelas formulações que me estão embaraçando para o avanço evolutivo. Deitei-me no divã psiquiátrico e me acomodei indevidamente, dando a impressão de me ter tornado um profissional dos relatos, sem a contrapartida da decisão da melhoria dos procedimentos. Mas não é bem assim que sucede comigo, pois tenho bem definidas as posturas que deverei manter, para não perder este equilíbrio que venho mantendo com muito sacrifício, no temor de ter de retornar ao abismo, para a purgação de alguns aspectos que estou começando a decifrar como poderosos na formação de algumas respostas de comportamento de má catadura.

Solicito permissão para parar, ex-abrupto, pois me sinto exausto. Muito obrigado!
João.

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