BATE-ESTACAS
A cada dia num ponto
qualquer da cidade
a máquina se insinua
sem o menor rubor.
Os tijolos do chão
erguidos um a um
são pedaços dos homens,
e fazem o cerco
onde as construções amadurecem.
As pálidas bocas dos homens
podem dizer de uma trilha
onde vão mirabolando
ruas, pontes, edifícios.
As tantas sílabas
formam paralelepípedos,
asfaltos sobre o pó,
esqueletos de concreto armado
e trazem janelas de vidro,
portas para mais construções,
letreiros para cada inauguração.
As palavras ditas
se misturam na areia, cimento,
pedra, saibro.
As palavras não ditas
se igualam as ditas
e recebem caiação.
As palavras
não ditas também
em silêncio
constroem o país,
ou armam desabamentos
para novas construções.
As palavras
ditas ou não ditas
desabam dos andares mais altos,
se perdem no sobe e desce
dos elevadores de obras.
As palavras não ditas
são às vezes ditas benditas,
e colocadas no horário
das refeições, entre conversas
de peões.
Estas palavras são invisíveis
cascalhos entre faíscas
das pedras de inauguração.
As palavras ditas
poucos escutam,
mas de alguma forma
mas ficam para o futuro
impressas entre as paredes.
São ecos que não explicam.
Pertecem as vozes
dos corpos
que erguem as entranhas
das construções,
unem frios tijolos
e se argamassam.
As palavras benditas
sobrevivem
entre sílabas, e vão formando
novas palavras que nascem
desconhecidas,
mas um dia amadurecem
e vão além, se tornam conhecidas
são escutadas adiante,
libertas do pulsar
do som de Bate-estacas.
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