Quisera este senhor, estatura apagada, riso frouxo,
Poder estar entre todas a luzes acesas da cidade.
O modelo entortado de seu agir, estende-se pela grama curta,
Do jardim por ele cultivado.
Tudo muito bem arrumado.
Tudo muito deserto.
- Não pise na grama, moleque!
Como se a grama fosse mais importante que um sorriso.
Ele cultiva seu jardim modelo, à fronte de uma casa vazia.
Conversa com suas orquídeas, não responde às simples questões.
As orquídeas não falam.
Interlocutor do vento que sopra avisando, úmido, sobre o temporal.
Os filhos estão em outra pátria, construindo um outro país, sem pais.
Telefonam vez e outra, para dizerem palavras,
Que poderiam muito bem estar gravadas na secretária eletrônica.
Quisera este homem, já à beira da última badalada,
Poder ser como uma criança pura.
Correr em sua grama rainha, soltando gargalhadas sem nexo,
Encontrando a vida como deveria ser.
Sua companheira já é alma livre, há alguns anos.
Livre de toda a repressão que pôde experimentar.
- Pare de gritar, moleque!
Não suporta ouvir os filhos do vizinho exercitarem suas traquinagens.
Como de costume, recolhe-se ao quarto de dormir,
Exatamente às vinte horas e vinte e cinco minutos.
Extremamente cansado.
Aquele cansaço que se tem, quando não se produziu nada.
Quando foi que a vida deixou de florir em seus pensamentos?
Será que foi aos poucos, ou algo muito grave mudou seu rumo?
Quando nós perdemos a inocência, e começamos a construir,
Um castelo negro chamado maturidade.
Não deveria ser esse, o nosso modelo de maturidade.
Não nos interessaria perder, o que há de mais importante,
O que nos faz criar, melhorar e sonhar.
Qual foi a última vez em que ele sonhou?
Não falo sobre os sonhos do sono, não.
Aqueles sonhos mais maravilhosos: com os olhos muito abertos.
Onde planejamos os feitos,
Embalamos os sonos de outrem.
Os sonhos tolos e sinceros das pessoas boas.
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