A GORDINHA
Sou gordinha, como todos sabem, mas o defeito não é de nascença. Vim ao mundo antes da hora, com peso abaixo do normal. Foi na adolescência que tudo começou. Acho que aqueles pãezinhos na hora do recreio, os chocolates na saída da escola, sei lá... tudo isso me fez engordar de uma hora para outra.
Levaram-me ao médico e ele receitou umas pílulas. Os comprimidos eram bonitinhos, pequenininhos, em forma de coração. Tiravam realmente o apetite. E o sono também. Na cama, à noite, em vez de relaxar e dormir, minha cabeça fervilhava. Se fosse em véspera de prova, em pensamento eu repassava a matéria e seria capaz de tirar dez se a fizesse naquele momento. Se não tivesse nenhuma preocupação, inventava assuntos em que pensar. Sentia-me apta a dirigir um carro ou a preparar um prato complicado na cozinha. No dia seguinte, porém, nada disto era mais possível. Na hora da prova nem me lembrava direito dos detalhes. Se pegasse um carro, atropelaria quinhentas pessoas. Se fosse pra cozinha, só faria porcaria...
Comia pouco, dormia pouco, logicamente emagreci. Mas logo meus pais perceberam que os “efeitos colaterais” do milagroso remedinho não eram lá dos mais saudáveis. Melhor parar e tentar o sucesso fechando a boca. Aí então eu sonhava com montanhas de brigadeiros e enormes barras de chocolate...
Na verdade nunca fui gulosa, como tanta gente. E só eu era a gordinha.
Que frustração!
Beatriz Cruz
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