Estará por aí um daqueles tempos a ferver em que uma laranja refresca e regenera esplendidamente as glândulas gostativas? Não faço ideia do que deveras sejam as diversas fases do tempo no Brasil.
Mas, quando a época for oportuna e o momento azado, aconselharia à Senhora Professora que levasse uma laranja para escola. A senhora mune-se decerto de um pequeno lanche para revigorar energias nos intervalos, ou não ?...
Então, enquanto está descontraidamente ensinando seus alunos, também descontraidamente comece a descascar a laranja, depositando as cascas com gestos vagarosamente marcantes sobre a sua secretária. A seguir, entre o que vai explicando, saboreie um, dois, três gomos e vá ainda guardando os grãozinhos de semente. Reserve um só gomo para o fim.
Ainda, no passo da lição oficial que vai ministrando, inicie a composição de uma flor sobre a mesa. Coloque os grãozinhos no meio e finalmente, do gomo reservado, esprema umas gotinhas de sumo sobre as cascas da laranja que, na situação, configuram as pétalas da flor.
Decerto, pelo canto do olho, todos os seus alunos começaram a seguir sequentemente a sua labuta lateral, atraidos pelos movimentos fora de hábito que nesse dia inesperadamente lhes proporciona. A Senhora nunca comeu uma laranja defronte aos seus alunos... Pois não?...
Bem... Logo que a aula termine, verá que a maioria da maltinha, antes de sair, irá espreitar o que de facto a Senhora Professora esteve fazendo. Quatro ou cinco deles e delas vão de certeza querer ficar mais um pouco a argumentar e a aquilatar à volta da flor de laranja. E oh... Se o fruto que a Senhora usar tiver uma ou duas folhas de laranjeira, tanto melhor.
Sou um sonhador, pois sou, Senhora Professora? Acredito que a simplicidade das pequenas coisas inteligentes derrubam toda a espécie de complexidade. Por isso, os padres terão de acabar ou demonstrar que afinal Deus somos nós todos, logo que conseguirmos harmonizar a existência colectiva tal e qual a natureza o faz desde o princípio.
Bom... Então, votos de boa lição e considere que a sugestão exposta também resulta muitíssimo bem com alunos adultos. Sem que ninguém se aperceba, em pouco tempo criar-se-ão excelentes artistas.
A Sora, dá-me licença que saia? Até amanhã.
À saída da escola, Tadeu aguarda Toninho.
Toninho (surpreendido) = Mas... Tadeu... O que estás aqui a fazer?
Tadeu = Olha lá, ó coleguinha: afinal na tua escola quem são os professores?... Os professores ou os alunos?!...
Toninho = Ó pá, então não sabes que a minha escola é super avançada? Aqui, os alunos recebem dos professores e são obrigados a dar o dobro, como no tempo de Sócrates...
Tadeu = Ah!... Mas, super avançada ou super recuada?!...
António Torre da Guia
O Lusineiro |