GERALDINHO
Depois do nascimento de Joãozinho, os meninos, agora três, ficaram juntos e eu fui sozinha para outro quarto. Nem me dei conta do privilégio. Ao contrário, sentia-me isolada, um tanto temerosa. Antes de dormir, fechava e abria os olhos, via sombras na parede... Elas se movimentavam, até balançavam. Durante o dia lá não entrava, só perambulava o tempo todo no quintal.
Maiorzinha, ganhei uma escrivaninha, fazia minhas lições ali. Os móveis do quarto não eram de criança, como agora se vê por aí. Eram antigos, da casa da minha avó. Pra pegar um vestido no armário tão alto, eu subia na cadeira. Esticava o braço, o cabide enganchava, às vezes quase caía.
Assim que comecei a perceber que era bom ter um lugar onde meninos não entravam, puseram um bercinho bem ao lado da minha cama. Geraldinho, ainda bebê, veio me fazer companhia.
Foi divertido, não posso negar. Era como se tivesse um boneco de verdade, só pra eu brincar. Ele ria, pulava, chorava... Eu dava umas palmadinhas em suas pernas gordinhas e beijinhos nas bochechas rosadinhas. Logo ele se aquietava e dormia.
Como toda menina normal, eu gostava de brincar com ele.
Beatriz Cruz
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