Para quem acha que surgem coisas doidas na política, é bom lembrar que um presidente eleito pelo povo já proibiu o uso de biquínis. Foi Jânio Quadros, o homem que se imortalizou pela renúncia.
O jornalista Marconi Formiga explorou bem o tema, produzindo um livro que serviria para um “furo” de reportagem do Fantástico muitos anos depois.
Jânio também prometeu varrer a corrupção do país, com a campanha da vassourinha. “Varre varre vassourinha...”
Proibindo o uso de biquínis e brigas de galo traçou um perfil conservador para seu governo, mas ousou homenagear Fidel Castro. Isso desagradou profundamente aos norte-americanos.
Depois Jânio voltou como prefeito de São Paulo, onde também falou bastante e fez pouco.
Mas o que interessa mesmo é que os eleitores têm que prestar atenção no perfil dos candidatos ao escolherem qualquer representante.
Candidatos estranhos não podem sugerir ao eleitor atitudes coerentes.
Jânio era em 1960 o retrato perfeito de um país incoerente, preocupado com o momento histórico da guerra fria, tentando achar seu espaço entre norte-americanos e soviéticos.
Havia uma produção nacional incipiente, herdada dos sonhos de Getúlio e JK, e o candidato populista não soube aproveitar o momento.
Em 1989 o povo elegeu outro candidato incoerente, que gostava de arriscar sua segurança pilotando motos contrabandeadas de amigos, jet-sky, fazer frases de efeito sem nenhuma utilidade para as massas trabalhadoras, e que não poderia ter e final mais apropriado. Collor de Mello, o presidente do impedimento.
O povo que votou em Lula, tirando a meia dúzia de esclarecidos politicamente, talvez tenha votado com a mesma cabeça dos que elegeram Jânio e Collor, procurando salvadores da pátria.
Tirando a frase desastrada sobre a Namíbia, Lula ainda não proferiu besteiras grandes, buscando a coerência em seu governo.
Mas temos que ficar atentos. O companheiro metalúrgico foi eleito graças a acordos com grupos incoerentes que dominam o setor empresarial e os campos.
São os mesmos grupos que tornaram praticamente impossível a continuidade de governo de Jânio Quadros e Collor. Presidentes completamente distintos, os três têm em comum a promessa de reformas. Resta saber se os grupos incoerentes do país vão deixar Lula governar em paz.