Usina de Letras
Usina de Letras
157 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62214 )

Cartas ( 21334)

Contos (13261)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50609)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1063)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->6. FILHOS DA LUZ -- 14/07/2001 - 07:08 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Chamo de filhos da luz àqueles que estão tendo a oportunidade máxima de refletir a respeito das mensagens espíritas, particularmente os que têm livre acesso - cultural, intelectual, afetivo, religioso, moral etc. - às obras da Codificação de Allan Kardec, pois são como que os merecedores das bênçãos de Deus.

Ninguém irá dizer aqui que basta se introduzir nos mistérios da Terceira Revelação, para adquirir o direito ao progresso. Mas, na verdade, as considerações que se podem fazer a partir daí levarão a fatal encruzilhada: ou se opta pelo caminho de Jesus, ou se prossegue na rota da materialidade mais grosseira.

É pena que não tenha o dom da palavra fácil, para enaltecer os pensamentos que os mentores estão propiciando a este grupo comandado pelo Professor Álvaro. Entretanto, devo citar algumas passagens da derradeira estada na carne, para ilustrar os dizeres acima.

Em vida, fui apaniguado pela influenciação espírita de meu pai, que, embora livre-pensador, sabia respeitar as diretrizes evangélicas, mantendo profícuo contacto com os dirigentes do centro espírita da cidadezinha natal.

De início, ia à missa com mamãe, mas, quando atingi a idade da razão (aos quinze anos), meu pai achou que deveria começar a conhecer os pontos essenciais da doutrina e me deu a ler O Livro dos Espíritos. Nenhuma leitura foi mais detestada por mim, que, apesar de ignorante, gostava de ler.

O efeito, portanto, não poderia ter sido pior. Recebi diretamente da fonte os mananciais de água, mas meu reservatório era por demais acanhado e vinha cheio de há muito com as rezas e demais atividades católicas.

Além de tudo, meu pai não percebeu que estava afastando-me de meu natural grupo de amizades, masculinas e femininas - especialmente femininas -, de sorte que não via interesse nas diretrizes filosóficas e morais, as quais, absolutamente, não entendia.

Meu pai suspeitou de rebeldia e inconformação e proibiu-me, severamente, de frequentar a igreja, para desespero de minha mãe.

Não sei que desavenças íntimas ocorreram no seio do casal, mas a verdade é que, em breve, voltava às boas com os amigos, não tendo sido jamais molestado por papai.

Como sobra das confrontações (palavra muito forte, porque me calei, nunca arguindo a atitude paterna), precisei arrumar emprego, se quisesse dinheiro para as despesas pessoais.

O convívio com os trabalhadores da firma, em que exercia o modesto papel de estafeta, me abriu a mente para os relacionamentos humanos mais práticos, de forma que, não demorou muito, estava buscando melhores recursos financeiros, em cidade maior.

Se escrevesse a história de minha vida, iriam suspeitar de diversos nomes conhecidos que, como eu, saíram do nada do Interior, para efetivas conquistas económicas, na Capital. Mas não irei dar pistas da real identidade. Baste-me dizer que fiquei razoavelmente bem postado na sociedade, mercê de muito trabalho e de bastante sorte, onde entrou a força e a coragem de minha companheira e esposa, amorável criatura, que me deu sustento afetivo e equilíbrio racional, para me manter feliz até o final dos dias.

Mariana era espírita convicta. Médium de excelentes recursos, despachava as mensagens com inteira segurança, chegando a reproduzir as exatas expressões dos amigos da espiritualidade. Caso viessem estrangeiros ou pessoas de diferentes regiões do país, interpretava à maravilha as entoações e cacoetes linguísticos, dando aos parceiros de mesa a noção concreta que se desejava evidenciar, possibilitando aos doutrinadores eficaz participação evangélica.

Eis que tive, de novo, a condição de me tornar filho da luz, com todos os recursos, pois o intelecto se desenvolvera e interesses sociais se haviam de há muito definido.

Meu pobre pai falecera bem antes de eu partir para a cidade grande, deixando-me a triste lembrança de tê-lo desapontado. Contudo, na primeira oportunidade que tive de evocá-lo mentalmente, respondeu-nos, orgulhoso do filho, que estava bem e que se constituíra em meu protetor especialíssimo.

Deveria encerrar aqui a minha história de amor e felicidade, se não tivesse sofrido triste baque do destino. Perdi, de uma só vez, três filhos, barbaramente assassinados.

Foi o teste decisivo para minha firmeza espírita e eu sucumbi à dor. A querida esposa manteve-se soberana sobre o sofrimento, buscando lenir as dores com a presença dos mentores familiares, que se desdobraram para mantê-la cónscia dos deveres cármicos assumidos perante o Senhor.

Eu, por longo tempo, estive à beira do suicídio, não tendo concretizado o gesto, pela vigilància diuturna que Mariana exercia.

Após três anos de intenso desespero, afastado de todas as atividades espíritas, aconselhado pela mulher, voltei ao centro, na esperança de ouvir as vozes dos filhos. Jamais consegui, mas os instrutores vieram consolar-me, chamando-me, expressivamente, de filho da luz, nome com que eu designava, às vezes com certa jocosidade, os espíritas mais arraigados.

Foi como que o despertar para o amor a Deus. Sublimei todas as vicissitudes e passei a trabalhar serenamente em prol da consolação dos desesperados. Compreendi, finalmente, que a vida é o cadinho das paixões, onde se depuram os sentimentos. E estabeleci sério roteiro de atendimento, onde fiz frutificar o exemplo da aceitação da vontade do Pai, para o discurso da regeneração emotiva dos angustiados.

Não sei se cheguei a salvar alguém de cometer atentado contra a vida, mas a verdade é que fui muito procurado pelas pessoas que ficavam sabendo do meu poder de consolação.

Volto hoje com a mesma mensagem, agora salvaguardada pelo reencontro feliz com todas as criaturas queridas.

Não perpassei pelas trevas do Umbral, embora não tenha chegado de todo puro para a ascensão à angelitude. Criei obstáculos, em virtude de certo ar de superioridade de que me deixei infiltrar, já que me considerava um vencedor. Entretanto, tenho encontrado, no afeto dos companheiros, forças para suplantar esse terrível defeito, para quem, um dia, se entusiasmou com ser alcunhado de filho da luz. Muito devo crescer, para atingir esse ideal evangélico superior, mas devo dizer que foi muito melhor do que a experiência anterior, quando voltei da Terra diretamente para as profundezas do báratro.

Se todos os leitores puderem considerar-se filhos da luz, apesar de estarem contaminados, como eu, de algum orgulho íntimo, será preferível a não terem consideração alguma por si mesmos.

Definitivamente, sempre será melhor trabalhar pelos irmãos, até mesmo quando nenhuma força externa esteja a impelir para a caridade. Que se faça o bem pelo bem, e não pelas diversas recompensas, que Deus saberá o momento de estender-nos a mão.

Ricardo.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui