O LIMPADOR DE CHAMINÉS
Nos anos cinqüenta, as casas “modernas” apresentaram algumas modificações. Construídas mais longe da calçada, davam lugar a um pequeno jardim com canteiros, separado da rua por uma mureta baixinha e portãozinho de ferro. Logo à entrada, quase sempre havia um pequeno alpendre.
As salas encolheram, os móveis se transformaram. Sofás e poltronas de palhinha foram substituídos por estofados, as cadeiras de balanço desapareceram. Mas cristaleiras e consoles ainda perduraram por alguns anos, até que foram levadas para antiquários. Hoje, se quisermos, podemos reabilitá-las. A peso de ouro, porém.
A disposição dos cômodos também sofreu sérias mudanças. Os quartos já não davam mais para a sala, houve uma separação de alas, levando os dormitórios para o fundo e trazendo a cozinha para mais perto da sala de jantar.
A novidade dos fogões a gás eliminou para sempre a lenha e a fumaça das casas. Eliminou também a figura do limpador de chaminés, serviço pesado que intrigava as crianças. De tempos em tempos, seu João aparecia com um pano enrolado na cabeça, como se fosse turbante. Pegava uma vassoura de cabo longuíssimo e sumia dentro da chaminé. Nós ficávamos curiosos, queríamos entrar também, mas ele não deixava. Quando voltava de lá, parecia um monstro, com a cara preta, todo coberto de fuligem. E ainda, falando de um modo engraçado, corria atrás da gente...
Beatriz Cruz
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