Usina de Letras
Usina de Letras
162 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62228 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22536)

Discursos (3238)

Ensaios - (10364)

Erótico (13569)

Frases (50621)

Humor (20031)

Infantil (5433)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140803)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Bossa-Nova É Música Popular Brasileira Para Inglês Ver. -- 11/12/2003 - 23:43 (Márcio Scheel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A Bossa-Nova surgiu, no Brasil, durante os anos cinqüenta e sessenta, como uma variação rítmica e melódica do antigo samba-canção, que se popularizou, ao contrário do samba malandro dos bairros boêmios cariocas, pelo teor sentimental, nostálgico, melancólico e apaixonado de suas letras. Musicalmente, a Bossa-Nova divide e aumenta os tempos, modifica as batidas, atrasa o ritmo vertiginoso dos antigos sambas e se deixa contaminar pelos andamentos jazzísticos, sem o alto nível de improvisação do jazz, é preciso ressaltar, criando uma música em que a leveza melódica deve ser uma constante em todas as canções. Nesse sentido, a Bossa-Nova surge como uma reação ao barateamento e às facilitações estéticas pelas quais a música popular brasileira vinha passando, fundamentalmente o samba, em todas as suas variantes.



O grande diferencial da Bossa-Nova em relação ao samba-canção, por exemplo, diz respeito ao fato de que traz para si certas tendências da música erudita, ganhando novos contornos através das várias possibilidades sonoras oferecidas pelo trabalho orquestral, além da presença de instrumentos ostensivos como o piano, responsável pelo surgimento da maioria das canções e das parcerias entre Tom Jobim e Vinícius de Moraes. A própria formação de Tom Jobim derivava da música erudita, se levarmos em consideração que Tom era um maestro e que se valia do piano como instrumento de suas composições. Vinícius, o letrista preferido de Tom, era, antes de tudo, o poeta de Forma e Exegese, dos sonetos e da nova lírica moderna que surgia no Brasil pós-45, que assistia a ruína do Estado Novo, mas que já ensaiava os primeiros passos em direção ao golpe militar de 1964 e aos vinte anos de um regime político de exceção, que se estabeleceu a partir dos sucessivos governos militares, da presença opressiva e inibidora dos generais.



A Bossa-Nova produziu, então, músicos que se preocupavam cada vez mais com as questões artístico-estéticas da música. João Gilberto, por exemplo, dedicou sua vida ao projeto de se transformar num virtuose da bossa-nova. A fórmula banquinho-violão, expressa inclusive em canções como Corcovado - “um banquinho, um violão/ esse amor, uma canção” -, tem em João Gilberto seu representante maior. O estilo pausado, direto, seco e quase impessoal de cantar, o modo como cria silêncios inesperados e harmoniosos, um jeito próprio de tocar, baixinho, de forma contida, como quem vai escandindo os acordes, dimensionando as palavras, fizeram de João Gilberto um esteta da Bossa-Nova, alguém para quem a música não é simplesmente um complexo de sons, melodias e harmonias a serem sistematicamente repetidas, ao contrário, a música deve ser o objetivo final de um jogo essencialmente estético, resultado de uma decantada experiência artística.



As letras produzidas pelos bossa-novistas, cujos versos são o resultado de preciosos recursos poéticos, tratam sempre de amor, tristeza, nostalgia e solidão, mas sem desesperos ou angústias, sem a nota melodramática das grandes composições populares, como as de um Vicente Celestino, por exemplo, ou de muitos sambas gravados até então. Mas também não há, na maioria das bossas, a ironia dessacralizadora e distintiva de um Noel Rosa, talvez o primeiro sambista de destaque do país. O amor, a tristeza, a nostalgia e a solidão dessas canções tem algo de artificial, porque remete sempre a um ideal de equilíbrio quase estóico diante dos infortúnios. Assim, não há nada mais alienado da condição humana do que uma música cujos versos falam em barquinhos, violões, Copacabanas e Ipanemas que já não fazem sentido quando confrontadas com uma determinada realidade – esta em que vivemos hoje.



As parecerias entre Tom e Vinicius, e a formação singular de ambos, um maestro e o outro poeta, ambos de primeira grandeza, são elementos que demonstram, por si mesmos, a forte tendência erudita da Bossa-Nova, e o comprometimento desta com a idéia de renovação estética que era preciso produzir no interior da música popular brasileira. O curioso é que a Bossa-Nova se transformou, rapidamente, numa música elitizada, feita para as classes média-alta e para as elites dominantes, isto é, direcionada a um público letrado, de conhecimento e alguma formação cultural, público que pudesse fruir as nuances características de canções que fundiam tendências particulares do samba-canção, da música erudita e do jazz norte-americano. Nunca chegou a ser verdadeiramente popular, nunca alcançou as camadas mais baixas do universo social brasileiro. Nesse sentido, a Bossa-Nova é, literalmente, MPB para inglês ver, produto de exportação de um Brasil que não existe mais, que, talvez, nunca tenha existido.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui