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Poesias-->Canção de dor -- 07/01/2002 - 10:57 (Ademir Garcia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Formam-se nuvens sobre a estrada,

parecem fechar da cidade a entrada,

lá longe, misturando-se ao bosque,

árvores e nuvens numa só moldura,

qual outono ansioso de tempestade,

que deixa a tarde gelada e escura.



Passos decididos soprando a terra,

mais pesados porque somam corpos,

levam o homem que a ira caminha,

e em seus braços um ramo de vida,

que a sorte no campo não teve dó,

e quer arrebatar-lhe a alma querida.



Minutos que passam secularmente,

não mudam o rítmo daquele coração,

nenhum obstáculo lhe parece existir,

tampouco transborda em sua mente,

mesmo que fosse um singular soluço,

prá mostrar pedaço da dor que sente.



Esparsas gotas já lhe tocam o rosto,

riscando sobre o pó como cicatrizes,

eis que o vilarejo alcançou como raio,

logo uma porta no ombro destravou,

sabendo que médico na casa morava,

urgente socorro num olhar reclamou.



Aqueles minutos da estrada se foram,

as horas lhe maltratam agora o siso,

vigiando por sobre o biombo de pano,

só quer os olhos do doutor encontrar,

e que traduzam um lampejo que mostre,

que a vida do filho conseguiu salvar.



Assiste o vai-vém de roupas brancas,

o ajudante também tem olhar furtivo,

sente que ambos estão desesperados,

e o barulho de instrumentos na bacia,

leva para longe qualquer pensamento,

ficando apenas o torpor e sua agonia.



Lá fora a tempestade resolve crescer,

as vidraças trepidam à força do vento,

e no escuro os arbustos se abraçam,

dando arrepios de ver suas sombras,

sob o clarão de relâmpagos e raios,

embaraçando a presente lembrança.



Jamais precisou ir à casa do doutor,

só agora consegue entender a fama,

porque aquele homem que ali está,

que ninguém dele gosta de precisar,

já nesta vez primeira que o encontra,

por êle nenhum minuto deixa de orar.



Em meio às orações desordenadas,

lhe passa toda aquela vida pequena,

desde o instante que a mãe o sentiu,

as travessuras cheias de singeleza,

até inesquecíveis momentos alegres,

pois lhe vinham da mais doce pureza.



O instante fatídico não lhe abandona,

relembra o corísco cortando os céus,

vindo ao pé do paiol de guardar feno,

toda aquela madeira desmoronando,

o filho que ali brincava em segurança,

assistiu a tudo sobre ele desabando.



Não notou a noite e a chuva partirem,

a madrugada esboça um pálido morno,

vê que a janela já não está embaçada,

ouve os primeiros sons da natureza,

esfrega os olhos como se os abrisse,

parecendo ter sonhado com a tristeza.



Sente por um instante enorme calafrio,

este silêncio à sua volta lhe assusta,

tem receio de olhar sobre o biombo,

já não estão ali o médico e o auxiliar,

só ouve uma respiração compassada,

é jeito de criança transqüila a dormitar.



Um leve ranger das portas se abrindo,

sem máscara, sem touca e sem luvas,

o doutor sorrindo, caminhando prá ele,

vem lhe abraçar e contar que está bem,

o filho adorado está salvo e dormindo,

nos braços da mãe, que ali veio também.





AdeGa/97

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