Vem brincar na calçada,
jogar pião na roda fechada,
bolinhas de gude a ponto,
pular corda e amarelinha,
perder o tempo da lição,
passar anel de mão em mão.
Vem tomar chuva no quintal,
fazer aquarela sem avental,
subir no pé de carambola,
se lambuzar chupando manga,
azedar os lábios com pitanga,
acreditar comigo em lobo-mau.
Vem correr atrás de bola,
fazer arco de cartola,
pedir jabuticaba ao vizinho,
abafar figurinha na varanda,
esquecer a hora do banho,
consertar o iô-iô que enrola.
Vem pedir carona ao carroceiro,
gritar—Extra. . , extra, ao jornaleiro,
fugir do (*)Dito Guiné pelos jardins
atravessar o rio pela corredeira,
cantar na igreja aos domingos,
confessar que alterou o boletim.
Vem cabular a última aula,
sofrer a saudade das férias,
atirar giz na professora,
esguichar água nos colegas,
bater peteca no recreio,
comer pipoca sábado à noite.
Vem fazer bolinhas de sabão,
grudar chiclete nos cabelos,
empinar pipa entre os fios,
camuflar no esconde-esconde,
caçar rolinhas pelos campos
e preás pelos banhados.
Vem rodar de bicicleta,
encaçapar o bilboquê,
bulir na saia da carola,
soltar balão no São João,
estourar bomba na caixa de correio,
fugir em bando do buscapé.
Vem brincar comigo um só dia,
traga seus amigos não crescidos,
mesmo que tenham bastante idade,
pois a solidão me traz saudade,
na saudade relembro a infância,
que gosto de reviver sem nostalgia.
AdeGa/97
(*) Personagem real na infância do autor.
|