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Cartas-->Terceira Carta à Violeta Bacamarte -- 31/01/2011 - 22:12 (Alfredo Domingos Faria da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Terceira Carta à Violeta Bacamarte

Em conversa mole, outro dia, você duvidou de que eu pudesse escrever sobre tudo. Lembra-se? Aí, em resposta, fui pretensioso: - escrevo, sim. Até sobre uma maçaneta, como a daquela porta.
Houve o contra-ataque imediato, naturalmente. Disse-me que não havia nenhum assunto para brotar de uma simples maçaneta. Acrescentou, mandando na lata, que do mato em questão não sairia coelho. Duvidou da façanha. Achou que a escrevinhação iria babar!
Louca e ingênua criatura! Aceitei o desafio.
Parece mesmo sem nenhuma utilidade a maçaneta saliente, oferecida, de uma porta. Apenas parece. Vai qualquer indivíduo tentar romper um ambiente sem fazer uso da maçaneta ou trinco da porta. Simplesmente, não conseguirá. Não vale pensar em pular a janela, ilusionismo ou outro artifício do gênero. Vamos pelos caminhos normais.
Já fiquei preso no banheiro do trabalho. A maçaneta caiu na minha mão e não havia como abrir a porta. Foram precisos, primeiro, o celular, pela busca de socorro, e, depois, uma verdadeira engenhoca como ferramenta, para que a encrenca fosse contornada. Ainda bem que deu certo!
Refletir não custa nada, ou quase nada, então vejamos: muitas mãos, lentas, apressadas, distraídas ou atentas, passaram por aquela maçaneta. Indo ou vindo, houve e há um constante trânsito auxiliado pela maçaneta.
A bolsa da sogra, sim a da sua mãe, quantas vezes foi dependurada ali durante as suas intermináveis visitas? Aliás, conteúdo de bolsa feminina é um mistério. Haja coisa a carregar. Mas não importa agora, o papo é outro.
Dá para imaginar as vezes que os bolsos das minhas calças foram dilacerados ao ficarem presos na maçaneta? E a mochila? Vira e mexe tem uma alça presa ali.
A nossa filha, quando resolveu ser independente, dar o grito do Ipiranga, sem o riacho, e sair de casa, ficou embatucada, com as mãos para trás agarradas à maçaneta da porta. Faltava jeito para desembuchar e nos dar a notícia da libertação. Escorando-se na porta, não emitia palavra. Eu muito que me recordo, pois em se tratando de filha, coração de pai vive sobressaltado. Digo para quem quiser ouvir, e até que não queira, o quanto ela é o meu xodó. Pois bem ou pois mal, somente largou a maçaneta quando botou tudo para fora e saiu aos prantos.
A testada que o seu afilhado, aquela peste irrequieta do Paulinho, deu na maçaneta fez história. Tarde da noite do dia de Natal fomos parar na UPA superlotada. O garoto gritava e chorava de dor. A mãe dele desmaiou pelas dimensões do talho ou, melhor dizendo, rombo. O sangue rolava testa abaixo. Fica a pergunta: a culpa foi do menino ou da mãe que se entregara às garrafas de Proseco, completamente distraída?
Algumas atitudes e conversas da vida são feitas em locais especiais ou de desejo de quem as realiza. Toda vez que a minha mãe tinha algo sério a revelar fazia a reunião ao redor da cama, ficando ela sentada ao lado do seu criado-mudo, e o resto da turma de pé. Meu avô despachava todos os assuntos, desde que fosse apenas à mesa de jantar. Posicionava-se na cabeceira e os demais sentados em volta. A partir dessa formalidade, vinha a falação.
Aqui em casa, não sei por quais cargas d’água, os principais discursos são na sala, ao lado da porta, com a maçaneta servindo de apoio e refúgio. Quando noticiei minha aposentadoria, sem sentir, fui caminhando para a porta e revelei a decisão segurando, o mais firme que consegui, a maçaneta. Vai saber!
Bem, querida, como você não leu o texto antes, deixando sempre para depois, faço agora de pirraça esta carta, que deverá ser lida sem escapatória, pela surpresa. Espero pegar-lhe de chofre. Aí, saberá do texto e conhecerá a minha inspiração acerca de uma reles maçaneta, segundo sua maneira de desdenhar. O teor pode estar de pouco brilho, inverossímil, infantil e cheio de outras maledicências que você arrumar, porém, cumpro a promessa. De tudo pode sair um samba ou uma história, fique sabendo. Da alegria, da traição, de uma banalidade, enfim, os motivos estão no ar, prontos para serem aproveitados. Noel Rosa confirmaria.
Até mais, meu beijo. (ainda escreverei sobre o porquê das cartas, aguarde)
Alfredo Domingos Faria da Costa
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