Em que orgia estará essa conversa,
que sem pressa enche vazios
[e salões atravessa,
não contesta, vai ao vento,
sofre o frio ao relento,
de nada desconfia e só desafia.
Ao léu se enche de coragem,
o dorso robusto na aragem
[da noite estremece,
conforta insone resvalando inverdade,
dá adeus aos viajantes,
faz versos aos covardes
[e chora seus mortos.
Encoraja mendigos e profana perigos,
promove encontros e desencontros
[pois empertiga jogadores,
também faz seu jogo e sua aposta,
a resposta em poesia, na orgia,
nos vazios dos salões.
E nos braços da espreguiçadeira,
tão chorosa quanto desvairada
[entre as manchas noturnas,
a fiada que caleja os cotovelos,
pode bem num trago ou dois tragos, talvez,
repousar na fama um talento
[da mediocridade.
AdeGa/99
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