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Cronicas-->9. RONALDO VAI ÀS COMPRAS -- 17/07/2001 - 06:42 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não é por acaso que imitamos o título de conhecida película cinematográfica. É que queremos enfatizar a atitude que muitos tomam ao se endereçarem aos templos religiosos, da mesma forma que vão às lojas e feiras públicas.

Já deu para os amigos perceberem quem é o tal de Ronaldo: é este que lhes fala.

Pois fui modesto coletor de impostos, que vivi a maior parte do tempo encerrado em gabinetes oficiais, para a escrituração contábil do governo. Cumpria as tarefas com alguma proficiência, mas nunca obtive avanço funcional que me garantisse ganhos substanciais. Eu mesmo sonhava com grandes feitos na vida, de modo que fui azedando o espírito, à medida que os ideais iam depositando-se no fundo do baú da memória.

Apenas para ponto de referência, podem acreditar que esta comunicação é, de longe, muito mais importante que qualquer consideração de que fui alvo durante toda a longa carreira profissional. Devo dizer que não tive filhos, o que me teria dado alguma alegria. Mas minha mulher era estéril e eu a respeitei solenemente.

Aliás, foi através dela que fui transferindo as ilusões de grandeza para o outro mundo, pois, como não passava de alguns minguados contos de réis, comecei a pensar que poderia adquirir ótima localização no paraíso.

Em uma página, resumi a história de minha vida e levaria apenas duas linhas para dizer dos sofrimentos posteriores causados pela frustração das expectativas. Amaldiçoei o destino e me senti duplamente traído, quando, além de não ter recebido nada de valor no etéreo, vi minha mulher contrair novas núpcias, menos de um ano após o meu desenlace, que se deu assim que me aposentei.

A bem da verdade, não oficializou o matrimónio, pois pretendeu prosseguir recebendo a pensão da viuvez, mas, para mim, que passei a desconfiar da fidelidade dela, principalmente porque houve vários espíritos maldosos que vieram assoprar-me tal fato ao ouvido, foi como se tivesse selado o compromisso perante Deus, ou seja, pela eternidade.

As andanças pela Terra surtiram efeito maléfico para a psique, pois o azedume se acentuou sobremodo, ao ver o modo de vida das pessoas. Se eram felizes, sentia forte inveja. Se infelizes, demonstrava ao Senhor toda a sua injustiça, apontando para a minha miséria moral.

Fui às compras pela mão da esposa, na época em que passei a frequentar a igreja, mas não obtive qualquer sucesso. Também pelas mãos dela, involuntárias, fui jogado na rua da amargura.

Durante diversos anos, vaguei pela crosta, observando a vida humana. Fui impedido, muitas vezes, de penetrar na intimidade das famílias, de sorte que não posso afirmar conhecer todos os aspectos dos relacionamentos humanos. Mas o que pude analisar fez-me concluir que deveria receber ajuda, ou ficaria eternamente errante.

No dia em que formulei com toda a clareza tal pensamento, me vi, de repente, convidado a entrar numa daquelas casas que sempre desejei frequentar. Era um centro espírita. Não é preciso dizer que fui bem tratado, sendo-me permitido avaliar os trabalhos lá realizados. Assisti a diversos contactos mediúnicos e firmei pé em que, algum dia, iria apresentar-me para valiosa comunicação. Rejeitei a idéia de vir na qualidade de malfeitor, conforme vários seres que ali se apresentaram, e me propus a seguir os conselhos dos amigos.

Data dessa época o meu ingresso nesta instituição, onde, após ter batalhado bastante, fui inscrito nesta turma. Como se pode observar, deixei de lado a pretensão de transmitir noções evangélicas de peso e aceitei partilhar das alegrias do grupo, para o desempenho mediúnico subsidiado.

Estou muito contente por ter podido deixar as minhas impressões mais à flor da pele, sem interferências de caráter doutrinal, pois penso que muitos dos companheiros leitores irão optar por tão simples dissertação, no momento em que se virem perante algum mediador.

O que mais posso recomendar é que rezem bastante, sem, entretanto, proporem qualquer escambo de mercadorias espirituais do tipo:

- Eu prometo ser fiel às leis...

É que de bem intencionados o inferno está cheio.

Façam o máximo que puderem pelo bem-estar moral e físico dos semelhantes e não queiram rogar nada para si mesmos. Peçam saúde para trabalhar e compreensão para as dores que os impedirem disso. Jamais criem a expectativa de que vão chegar e logo participar ativamente de algum grupo de socorristas. As ilusões são o que mais dói, quando a realidade se apresenta desfavorável.

Vejam o meu caso atual. Escrevo estas linhas e faço o máximo para cumprir o melhor possível a obrigação, mas não estou bem certo de que vá atingir o àmago das emoções de ninguém. Talvez consiga, mas a expectativa disso não é preponderante. O que estou tentando informar é que o futuro a Deus pertence, o qual se baseará no nosso presente - como norma existencial - para nos propor os próximos passos e o ànimo com que os daremos.

Passei por momentos verdadeiramente lúgubres. A tristeza era o sentimento que regulava todos os atos e pensamentos. Mas isso foi deixado para trás e agora, apesar de lamentar tanta perda energético-fluídica (o que corresponderia à perda de tempo entre os mortais), encontro forças positivas para ir realizando os estudos, buscando caracterizar todos os procedimentos que se seguirão, no instante em que estiver exercendo o socorrismo.

Graças a Deus, tenho estado na companhia de irmãos dedicadíssimos, o que me sugere a exortação a que os leitores façam o mesmo com os parceiros, não se esquecendo, jamais, de que o ato de escolha não é excludente, mas includente, ou seja, aqueles companheiros que não forem os melhores merecerão amparo especial, de sorte a dar-lhes oportunidade de criarem condições de frequentar o seu círculo de amizades.

Para quem não desejava deixar nada além do que impressões de vida, até que fiz exortações mais contundentes. Não se iludam com esta atitude: ainda uma vez, Ronaldo está indo às compras, agora bem mais consciente das dificuldades, conforme me assopra a esposa aqui do lado.

Ronaldo.
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