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Textos_Religiosos-->Por Linhas Tortas – os Dez Mandamentos e a Condição Feminina -- 02/03/2009 - 12:28 (Mauro Bartolomeu) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
25/12/2006

Segundo uma anedota contada por uma freira salesiana, inquirido acerca do número de mandamentos da lei de deus, Joãozinho (sempre ele!) replica: “Depende. Para os homens, são dez; para as mulheres, nove”. Sua confusão deve-se, é claro, ao mandamento nono, aquele que proíbe de cobiçar a mulher do próximo. Apesar da ingenuidade de Joãozinho, que desconhece o fenômeno, cada vez mais comum, do homossexualismo feminino, o que ele realmente não sabia (e com ele muita gente, mesmo dentre os religiosos, que em geral não estudam os livros que consideram sagrados) é que esse mandamento só existe para os Católicos Romanos e para os Luteranos (e igrejas delas derivadas).
Em Êxodo 20, 2-17 encontramos o texto integral dos mandamentos, que transcrevo da respeitada tradução de João Ferreira de Almeida:
“ 2 Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. 3 Não terás outros deuses diante de mim. 4 Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. 5 Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. 6 E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos. 7 Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. 8 Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. 9 Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. 10 Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. 11 Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou. 12 Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá. 13 Não matarás. 14 Não adulterarás. 15 Não furtarás. 16 Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. 17 Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.”
O último mandamento se refere à mulher como a qualquer outro bem material comerciável, ao lado do escravo e do animal, o que era bastante natural para Moisés e seu povo; tratava-se, portanto, de um mandamento contra a cobiça em geral, e não uma reiteração, desnecessária, do mandamento contra o adultério, expresso no versículo 14.
Sabemos que os mandamentos são dez porque é o que nos dizem as próprias Escrituras (Ex 34,28; Dt 4,13; 10,4) mas a divisão do Decálogo (em grego, literalmente, algo como as “dez palavras”) não é um consenso entre as diferentes tradições confessionais. Os israelitas, por exemplo, consideram o segundo versículo como primeiro mandamento, interpretando-o como um preceito de crer na existência de seu deus. Os versículos 3 e seguintes são unidos para formar a segunda “palavra”. Já entre os cristãos há duas tradições distintas: uma, a dos padres gregos, considera como primeiro mandamento os versículos 2 e 3 e o segundo os versículos 4 a 6; a outra foi estabelecida por Santo Agostinho com base no Deuteronômio, e considera o versículo 2 apenas como uma “introdução” ao Decálogo, e entende os versículos 3 a 6 como um único mandamento. Para obter o número dez, então, Agostinho divide em dois o versículo 17, fazendo surgir uma ampliação desnecessária e arbitrária do mandamento contra o adultério: se, no mandamento anterior, proibia-se o relacionamento sexual com a mulher alheia, agora proíbe-se até mesmo o simples desejá-la. No que concerne aos vv. 3-7, os Reformados, juntamente com os Ortodoxos, seguindo a primeira tradição, entendem como um dos mandamentos a proibição ao culto das imagens, que os Católicos e os Luteranos, seguindo Santo Agostinho, unem ao primeiro, como mera extensão da ordem de não adorar a outro deus. O resultado disso é que a proibição da idolatria é diluída no contexto, perdendo sua importância e vindo a ser, mais tarde, simplesmente excluída das versões “didáticas” dos mandamentos.
Poderíamos pensar que Agostinho, ao distinguir a mulher dos bens materiais, colocando-a numa categoria à parte, estivesse tentando “resgatá-la” da sua vil condição de objeto, muito tempo antes que ela conquistasse sua emancipação social. Seja qual tenha sido sua boa intenção (o inferno está cheio delas), o que conseguiu foi o oposto disso; primeiro porque a simples existência do mandamento parece excluir a mulher do círculo dos observadores da lei mosaica (já que o mandamento, como observou Joãozinho, era voltado para a comunidade masculina), e segundo porque, ao contrário do que fez com o texto contra a idolatria, acabou dando um destaque excessivo ao pecado de desejá-la, acarretando que ela fosse por mais alguns séculos associada a tudo o que era considerado pecaminoso e diabólico (visão essa que remonta ao Gênesis, em que a mulher aparece como aquela que se deixa seduzir pelo discurso da serpente e que induz o homem à desobediência e à “queda original”). A provocação é oportuna, pois ainda hoje não são raros os defensores de que a mulher deva ser submissa ao marido e de que, se “Deus” a tratou nos mandamentos como objeto é porque é de “Sua Santa Vontade” que ela continue sendo tratada assim. Entre os propugnadores dessas idéias conto inúmeros padres e pastores. Mas, afinal, o que é que padre entende de mulher? Pelo menos não deveria… Quanto aos pastores, sua especialidade não deveria ser cuidar de rebanhos?
Exige-se, tradicionalmente, que um texto dissertativo apresente uma conclusão no seu parágrafo final. Tudo o que posso concluir, porém, de toda essa confusão é que ela não existiria se Deus tivesse simplesmente se lembrado de numerar os mandamentos… Mas que distração dos diabos!

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