EU ALMOÇAVA NO COLÉGIO
No refeitório, em mesas compridas para dez ou doze pessoas, cada aluna sentava-se num lugar pré-determinado. Guardados em gavetas individuais, talheres com número gravado e guardanapo de monograma bordado. Antes da refeição, todas em pé, esperávamos que uma freira subisse ao “pódio” e puxasse a oração. Só depois é que nos sentávamos pra almoçar. As moças vinham com as travessas da cozinha e nós nos servíamos. Embora muita gente reclamasse, a comida não era tão ruim assim, mas as verduras, coitadas, sempre desprezadas.
Houve um tempo em que descobri que havia ali café da manhã pra quem comungasse. Como eu saía muito cedo de casa, para não perder o ônibus, passei a beliscar na escola também. Mas só comungava uma vez ou outra. Nos dias em que me sentia bem santinha, ou meio tristinha, mas principalmente antes de alguma prova difícil, de matemática, por exemplo. Na esperança de que alguém lá de cima viesse a dar uma ajudazinha, quem sabe uma assopradinha...
No intervalo das dez horas, as classes recebiam bisnagas fresquinhas que o padeiro trazia. Ele entrava no jardim com seu furgão e passava as cestas por uma janela do porão. Eu, que as achava deliciosas, além de comer uma ou duas ainda bicava o sanduíche da minha amiga Baía: pão com manteiga e azeitonas picadas, que sua avó preparava. Tanto biquei que a Vó passou a mandar outro igual pra mim.
No recreio da tarde, o lanche era naquele mesmo refeitório. Tudo mais rápido, até a reza. Engolíamos o café em pé mesmo e saíamos correndo com o pão nas mãos.
Beatriz Cruz
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