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Cronicas-->11. EVENTUALIDADES -- 19/07/2001 - 07:56 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Muitos dos nossos se apresentam à psicografia para desenvolverem o tema das programações cármicas. Uns poucos somente vêm com a predisposição aos comentários particulares a respeito dos sucessos episódicos, alheios à vontade coletiva dos protetores ou individual do protegido.

Em termos bem simples, diríamos que existem ocorrências na vida geradas por puro acaso. São as eventualidades.

Pode um filho ser gerado dessa forma? Eis pergunta típica dos que para quem tudo deve ser rigorosamente planejado. Que acha o bom amigo leitor? Como reagiria se lhe dissessem que foi concebido, sem qualquer desejo real de ninguém que viesse ao mundo? Por certo, a questão não seria de agrado.

Muitas perguntas, então, poderiam ser feitas em relação ao evento:

- Como foi que se deu o processo de miniaturação do perispírito e a competente encarnação? Quem teria providenciado a parte técnica? Com que intenção se daria um encarne casual? Haveria programação de emergência?

Poderíamos multiplicar as inquirições, tantas serão as dúvidas suscitadas.

Mas a resposta seria extremamente simples: nada, nesse campo, se dá por acaso. Se, para os encarnados, os acontecimentos nem sempre seguem padrões controláveis, havendo inúmeros desfechos imprevisíveis; para os desencarnados, a análise das ocorrências se faz com a possibilidade de integral prevenção, de sorte que os encarnes, por exemplo, estão preparados antecipadamente, esperando-se que se dê a conjunção carnal específica (espermatozóide mais óvulo), para a implantação do espírito a renascer.

Da mesma forma, ocorrem os abortos, com a diferença de que, aí, a surpresa pode estar também com os mentores espirituais, que não se capacitam para tais tipos de acidentes.

Generalizando a idéia, podemos inferir que o ingresso na carne está sob rigorosa assistência, enquanto a separação se dá mais ou menos aleatoriamente. É que os eventos espirituais não se regem pela mesma lei que os materiais.

Como atuar para o melhor aproveitamento dos fatos que se dispõem contrariamente às expectativas? Tirando as lições mais adequadas para a compreensão das leis cósmicas, segundo os mandamentos evangélicos.

Como reagimos quando recebemos herança ou prêmio lotérico? Abrindo o coração para a alegria e a felicidade, pois muitos problemas de caráter material irão simplesmente desaparecer. Ao contrário, quando são desgraças, fechamo-nos para a compreensão e rasgamos as vestes em desespero.

São atitudes extremadas. Se é normal sorrirmos de contentamento com os fatos felizes, também o é em relação ao pranto que derramamos, perante a perda de pessoas ou bens. Mas fundamentarmos toda a vida nesses acontecimentos, certamente evidenciará que estamos vivendo momentos ocasionais, sem a percepção de que os bens materiais se perdem e os males da alma se curam.

Bem compreender as ações extemporàneas talvez seja o sagrado mistério de se viver de forma proveitosa.

Eis que chegou a hora de falar de minhas desventuras, pois, na Terra, tudo o que fiz foi lamentar-me profundamente de cada pequenino acontecimento que me fugia ao controle. Ficava indignada por ter de apanhar alfinete que me escapasse das mãos. Imagine-se, então, como me senti quando vieram a falecer os parentes mais próximos. Acusei a Divina Providência, com todas as forças da alma, de injusta e perversa. Não entendia como é que tais fatos pudessem ocorrer com as pessoas. Se viessem consolar-me, citando-me males maiores, eu, simplesmente, considerava um desplante a reação dos que me conformavam tão singelamente, como se não se pudesse ter voz ativa relativamente ao destino.

Tais pensamentos me pesaram consideravelmente, quando reingressei no etéreo, jovem ainda, estando na expectativa de me tornar mãe pela terceira vez. O feto sobreviveu e meus dois pimpolhos queridos ficaram irremediavelmente sem o meu carinho de mãe e os meus cuidados de tutora.

Argui os protetores e não lhes aceitei a recomendação de que me contivesse e pusesse tudo nas mãos de Deus. Chamei Jesus às falas e muito me irei por não tê-lo ali presente, para demonstrar-me que o sofrimento dele fora maior que o meu.

Caí em profunda prostração moral e internei-me na escuridão do báratro, para período de hibernação considerável. Não queria ver nem ouvir ninguém e isso consegui proficientemente.

Mas a dor não é eterna e a misericórdia do Pai é infinita. Um dia, revelei o desejo de visitar o antigo lar e para lá me transportei, maravilhada.

Não reconheci nenhuma das personagens. O meu marido, encanecido e enrugado, estava com a fisionomia agradável de alguém a quem a vida oferecera tudo de melhor. Senti um frio na espinha, pois julgava que deveria encontrá-lo arrasado, prestes a cometer suicídio.

Havia na casa uma jovem de uns vinte e poucos anos, a qual logo achei que poderia ser minha filhinha, aquela que chegou quando eu parti. Mas logo me desiludi completamente, pois percebi que era a nova esposa de meu ex-marido.

Não sei como é que se sentem as mulheres divorciadas perante novo matrimónio dos maridos, mas eu me senti desfalecer. Pela primeira vez, senti poderosos influxos energéticos a me revigorarem, pois não poderia falir naquela dolorosíssima experiência.

Não queria mais saber de nada, mas bondoso senhor me apareceu e me recomendou muita calma, solicitando-me que o acompanhasse em amorável prece de agradecimento ao Senhor, pela possibilidade da visão e da audição.

No íntimo, eu me sentia revoltada, mas julguei melhor condescender, para não ofender a quem me oferecera tanto amparo. Aos poucos, aquele mau estremecimento cedeu lugar a choro convulsivo de arrependimento, pois percebi que me olvidara por completo da necessidade das orações e da contingência humana da vida gregária.

Não se me fez completamente a luz, mas pude enxergar, na consciência, um despertar para o amor, pois quis ver como iam as coisas para os meus filhos.

O primeiro fato que observei foi certo ar de tristeza, por estarem sob a tutela de jovem da mesma idade. Foi aí que descobri quanto tempo havia passado, desde que falecera, e como tivera sido inútil para a família, por me ter tanto abandonado ao luto do coração.

Acentuou-se o meu tremor e negra nuvem cobriu-me a visão. Não houve recurso fluídico que me valesse, despertando-me bem mais tarde, em instituição hospitalar, sob os cuidados dedicados de equipe especializada.

O mais foram lutas intensas para superação de imensa série de maus pensamentos a que me habituara. Mas podia, enquanto estudava, ir acompanhando a vida dos filhos, de modo que me nutria de amor para a sustentação da lucidez.

Penso que o bom amigo leitor possa estabelecer paralelo entre a parte teórica e o meu caso particular, para concluir comigo que as circunstàncias a que dei tanto valor não mereceriam sequer simples consideração. Havia muitas coisas importantes em jogo, para que me dedicasse tanto ao meu egoístico ponto de vista.

Peço permissão para me retirar, sem realizar qualquer preleção moralista: poderia ser mero acaso com que se deparasse o amigo leitor e eu pretendo que tudo para ele tenha o valor das essências.

Raimunda.

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