ABRINDO CAMINHO
Para ir pro colégio, eu costumava pegar o bonde Lapa-Vila Mariana, que subia a avenida Angélica. Na esquina da Higienópolis eu descia e fazia o resto do percurso a pé. Como ele já vinha lotado, eu nunca encontrava lugar pra sentar,ia apertada no meio do povo,abraçada a meus cadernos.
A cada ponto o bonde parava, poucos saltavam, mais gente entrava e mais apertada eu ficava. Precisava andar pra frente, um passinho que fosse, pra quando chegasse a hora de descer a porta alcançasse. Mas como, se lá estávamos feito sardinhas na lata?
Foi então que inventei um meio, meio disfarçado, mas eficiente. Servia pra duas coisas, abrir caminho e castigar engraçadinhos. Era a régua presa a um caderno que cutucava gente. Conforme a situação eu a movimentava de modo diferente.
Pra passar, um toque bastava, a pessoa se encolhia e com cara feia me olhava, mas eu andava. E sorrindo agradecia a passagem, como se nada soubesse da marotagem...
Beatriz Cruz
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