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cronicas-->12. MERECIDO DESCANSO -- 20/07/2001 - 07:08 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Meu compadre Firmino era espírita de quatro costados. Trabalhou alucinadamente (se não for forte demais tal termo) para prover os amigos de tudo que lhes faltasse. Não era rico, mas sempre dava jeito de arranjar o que lhe pedissem: eram bolsas de estudo, eram conselhos, eram alimentos e remédios, tudo ia de cambulhada.

Mas Firmino esqueceu-se de si mesmo. Teria sido de propósito, para não cair em tentação, como tantas vezes repetiu na prece dominical? Não sabemos, mas a verdade é que, ao despertar no etéreo, sentiu enorme desejo de descansar. Parecia que tinha cumprido tarefa demasiado pesada para os frágeis ombros.

Em oração compungida, solicitou a presença dos protetores e rogou que lhe permitissem o tão desejado e merecido descanso. Colocava, contudo, a decisão nas mãos dos amigos, na eventualidade de ser útil de alguma forma.

A deixa era oportuna e os mentores, de imediato, designaram-no para laboriosas tarefas de assistência ao grupo familiar, de modo que se pós diretamente às ordens de multidão de espíritos guardiães, os quais, desde logo, começaram a solicitar-lhe que ajudasse nisto e mais naquilo: eram vigílias noturnas para aviso de achaques perigosos; eram recados que deveriam ser passados com urgência, em alguma comunicação mediúnica; eram caprichos prejudiciais que deveriam contornar-se. Em suma, Firmino se viu atarantado com tantos pedidos.

Mas não se abalou. Permaneceu por mais de quinze anos nessa azáfama intérmina, uma vez que todos os acontecimentos pareciam renovar-se para atendimento emergencial. Quando Firmino começava a sentir-se um tanto ou quanto desconfiado de que algo havia a ser aprendido com aquela atitude, foi chamado pelo anjo guardião, para verdadeira preleção a respeito do trabalho.

Ali, coagido a ouvir, passou por solene sermão a respeito da preguiça e dos males consequentes. Não atinava com a razão de semelhante despropósito, pois, pelo que se lembrava, não passara um só instante na vida e mesmo depois de morto sem que estivesse executando algum serviço. Como receber, então, palavras tão ásperas, como se fora o maior vagabundo e irresponsável?

Mas calou-se.

Com ordem de retirar-se, foi enviado para uma cidade na própria Terra, local desconhecido, onde o trabalho era tido como função secundária da vida. Ali, o mais atarefado reservava boas três horas após o almoço para a sesta revigoradora e preguiçosa. O tempo parecia parado no mormaço circunjacente.

Firmino olhou para o Sol e viu-o resplandecente, a emitir raios poderosíssimos. Olhou para os irmãos e, imediatamente, suspeitou que deveria haver bastante trabalho a ser feito.

De pronto, segundo antigo hábito, pós-se a procurar os guias daquelas pessoas, para tratar com eles a sua participação nos serviços socorristas.

Naquela hora, não encontrou ninguém. Achou que deveriam estar estudando os pontos essenciais do Evangelho, mas não topou com nenhum local de reuniões. Alguns espíritos jocosos estavam por ali, mas também faziam a sesta, como se encarnados fossem.

Firmino buscou a unidade hospitalar da região e ali se deparou com estranho quadro: os médicos e enfermeiros repousavam, enquanto os doentes davam curso às moléstias, despreocupados com os acontecimentos. Havia um que estava desvencilhando-se dos liames carnais, totalmente só, praguejando entre os dentes a péssima hora daquele supremo evento. Descansava quando fora surpreendido pelo falecimento. Ninguém por perto para presenciar a agonia, nem para a ajuda mais corriqueira.

Ao se aproximar do indivíduo, foi solenemente repelido, como se estivesse perturbando alguma coisa. Assim que o corpo estancou o fluxo vital, o espírito sossegou, acomodou-se num canto do aposento, cobriu-se com largo chapéu que não se sabe de onde fez aparecer e, em pouco tempo, roncava sonoramente.

Aturdido com o que via, Firmino começou a desconfiar de que seu pedido inicial de após desenlace, finalmente, estava sendo atendido.

Quando estava começando a se deixar embalar por suave sonolência, foi acordado por forte abalo sísmico, que rompeu as estruturas morfológicas do terreno, promovendo tremendo tremor de terra, verdadeiro terremoto, que ceifou, de cara, mais de trezentas vidas.

O etéreo, de repente, regurgitou de vida. Equipes acorriam de todos os lados.

Firmino olhou para os céus e agradeceu profundamente ao Pai estar ele ali, para o indispensável auxílio às vítimas.

Desde essa ocasião, os únicos momentos de verdadeiro sossego que Firmino goza são as horinhas de estudo, na companhia dos colegas de grupo, quando é obrigado a meditar a respeito das leis cósmicas. Se não tem nada para fazer, corre em auxílio dos irmãos em dificuldades, para aprender com eles as matérias do currículo. Não pára nunca e julga que, ao contrário dos habitantes da cidadezinha, se parar, irá prejudicar perigosamente o esforço de evolução.

Vocês já devem ter desconfiado de que este que lhes escreve precisou acompanhar o irmãozinho durante muito tempo, para poder relatar as experiências, pois eu mesmo jamais julguei que pudesse existir alguém com tal disposição.

Mas meu modo de ser não se contaminou muito com a pressa que observei, e sim com a eficiência dos lenitivos manipulados. Se a pressa, de fato, é a grande inimiga da perfeição, isso só aconteceu porque não conheceu o compadre Firmino.

Quisera prosseguir com alguns comentários mais, mas estou sendo solicitado para acompanhá-lo em outro procedimento socorrista, já que obteve liberação para ir em busca de pessoal especializado para algumas suturas perispirituais.

Guardem bem o seu nome, pois ainda vão muito ouvir falar nele.

Roberto.

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