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Artigos-->Apresentação ao debate sobre Deus -- 22/12/2003 - 18:58 (Celso Augusto Uequed Pitol) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O problema de Deus está presente em quase todas as correntes filosóficas do Ocidente. Desde Sócrates, Platão e Aristóteles, passando pela provas de Santo Tomás de Aquino até Nietzsche declarar sua morte e Heidegger propor uma diferenciação ontológica que levaria ao fim do Deus dos filósofos e à abertura para a revelação do ser, praticamente não há autor que não se tenha debruçado, direta ou indiretamente, sobre a questão. Com o descrédito na metafísica observado a partir do século XVIII, o debate ficou em aberto durante muito tempo e só recentemente retomou seu antigo vigor. Isso talvez ocorra pela diminuição da influência das religiões nas decisões do mundo de hoje, promovendo um distanciamento benéfico e permitindo uma visão mais ampla, bem como da falta de consistência dos argumentos de certa ideologia oitocentista diante de questões que lhe escapam por, logo de antemão, desprezá-las.

Já não é assim, conforme sublinha o teólogo espanhol Juan Antonio Estrada, professor da Universidade de Granada, no primeiro volume de “Deus nas tradições filosóficas” (editora Paulus, tradução de Maria A. Diaz, 2003) : “O retrocesso global da religião durante o século XIX (....) não consegue manter-se com as mesmas características no século XX, pois a sociedade e a própria religião mudaram de maneira substancial”. Como disse Horkheimer, uma crítica tida como progressista em uma época pode ser reacionária em outra, não sendo as duas necessariamente sucessivas. O autor lembra que negar pura e simplesmente a realidade do conceito de Deus, que funda e acompanha a nossa tradição judaico-cristã, nem sequer ajuda a resolver o problema. O questionamento, inerente à condição humana, permanece.

Dado o enorme campo de pesquisa, Estrada optou por dividir o estudo em três partes, das quais duas foram publicadas, abordando em cada uma delas o problema, sob diferentes matizes. O primeiro volume, intitulado “Aporia e problemas de teologia natural”, trata da problemática da existência de Deus a partir do mundo, tendo em vista a evolução das ciências exatas e as estruturas metafísicas da atualidade. Iniciando pelos mitos, passando pelas interpretações gregas e cristãs do teísmo e às análises críticas de Kant, Heidegger e Wittgenstein, apresenta as novas teses sobre o tema, ressaltando sempre as questões ainda não resolvidas.

O enfoque muda no volume seguinte, “Da morte de Deus à crise do sujeito”. Partindo do ponto de vista do homem, e não da natureza, o autor analisa a construção e a desconstrução da antropoteologia, demonstrando, por fim, que os problemas metafísicos de onde surge o problema de Deus ainda persistem. O método, no entanto, permanece o mesmo do livro anterior. Ressalta-se a análise das teses de Nietzsche, pensador que Estrada considera muito mais desafiador à tradição cristã, por sua crítica ser “mais central e nuclear, exatamente por ser capaz de captar suas dimensões essenciais e pelo esforço de propor-lhes uma alternativa diferente, a do ‘anticristo’, além do bem e do mal”.

Apesar do extenso trabalho já feito, e ainda não terminado (o terceiro volume, a sair, versará sobre teodicéia e o problema do mal), Estrada afasta a possibilidade de encerrar a questão. Do mesmo modo que reconhece, a um tempo, a validade da reflexão racional sobre Deus e seu caráter parcial e provisório, define sua obra como inacabada e fragmentária. Sua sábia humildade é tão grande quanto sua competência; “Deus nas tradições filosóficas” é um brilhante exercício de sistematização e síntese, capaz de manter o rigor conceitual ao perpassar os mais de 2500 anos do pensamento ocidental e torná-los acessíveis ao leitor, tanto pela disposição quanto pelo cuidado da linguagem empregada.







Celso Augusto Uequed Pitol

uequedpitol@bol.com.br
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