CAFÉ DA MANHÃ
Nos anos cinqüenta, os leiteiros de São Paulo não usavam mais carroças, circulavam em furgõezinhos. Começavam o trabalho antes do dia clarear, entregando o leite de casa em casa. Nem tocavam a campainha, pra ninguém acordar, deixavam os litros de vidro na soleira da porta, ao lado da janela, em algum lugar. Era só pegar e, no fim do mês, a conta pagar.
Da mesma maneira agiam os padeiros, traziam o filão, um pão comprido, que as crianças gostavam de furar. Ele vinha embrulhado num papel cinza, que todo mundo chamava de “papel de pão”. O pãozinho ainda não era comum. Só mais tarde é que se popularizou e o lugar do outro tomou.
A manteiga ficava numa vasilha, dentro d´água, pra não endurecer e poder se esparramar na fatia a degustar. Às vezes recobertas com mel, ou polvilhada de açúcar, pra variar.
O leite servido já vinha pasteurizado, não precisava mais ser fervido. O café era passado no coador de pano, que alguns diziam “de meia”, o que me parecia coisa feia, pois lembrava o chulé. Mas o cheirinho dele é sempre bom, né? Do café, não do pé...
Beatriz Cruz |