A FESTA ALHEIA
Fosse talvez a noite das debutantes,
que o dia passaram em casas de beleza,
mirando-se todas no espelho,
exuberantes bocas de vermelho,
transformando suas mãos e cabeças,
duvidando do que lhes dera a natureza.
Tinham elas o comum sob as luzes,
estavam os semblantes bem parecidos,
embora fossem os tons diferentes,
as roupas pouco consistentes,
em seus trejeitos joviais traziam,
a igualdade da inveja em seus sorrisos.
Bajulavam-se entre si pelos salões,
não pareciam as falácias terem verdades,
olhares que lançados de esgueira,
inspiravam rapazes à bebedeira,
desavisados que estavam na berlinda,
daquele indisfarçável mundo de vaidades.
Quem à distância a observar se punha,
com certo humor guarda essa lembrança,
de uma falsa alegria conjunta,
exposta em alguma espelunca,
que por séculos remonta na sociedade,
e concebe que isso jamais terá mudança.
AdeGa/97
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