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Cronicas-->15. REGRAS DE OURO -- 23/07/2001 - 12:47 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

"Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo" é o mandamento máximo do cristianismo, a que todos os espíritas devem curvar-se. Além disso, exalça-se o lema "fora da caridade não há salvação", e aí estariam resumidas a doutrina e as leis. Entretanto, não parece bastar aos homens dispositivos tão claros, de sorte que há toda uma instituição de justiça fundamentada em códigos de ética, de moral e de jurisprudência, como se fora possível que alguma atitude ou atividade pudesse ficar de fora das determinações das leis maiores que citamos.

Mesmo os espíritos superiores, quando consultados por Kardec, definiram algumas normas de procedimento humano, para justificar algumas ações aparentemente coerentes com as leis naturais, como sejam as leis de conservação, de destruição e até de adoração. Recomendamos, insistentemente, que se leia, mais ainda, que se estude O Livro dos Espíritos, registro mais importante até hoje realizado das boas normas do viver e do conviver.

Mas nós não estamos preocupados em alargar as diretrizes, e sim em sintetizá-las. Dessa forma, após profunda reflexão a respeito de todas as instruções contidas nos diversos volumes da Codificação e tendo-se satisfeito a curiosidade do que se contém nas obras mais lídimas do Espiritismo, mediúnicas ou não, volvamos à síntese das leis áureas e estabeleçamos para conosco dar seguimento às atividades à luz desse manancial de sabedoria.

Se tivermos a capacidade da boa assimilação dos dizeres, iremos verificar que não necessitamos de nenhum outro recurso para agir em conformidade com os desejos cristãos, no sentido do cumprimento de todos os compromissos do carma, avançando celeremente na conquista de todas as virtudes passíveis de aquisição, neste orbe de sofrimento e prova.

Digo tudo isto em absoluto contraste com as idéias de encarnado, pois exercia a difícil e ingrata função de advogado, precisando esmiuçar os textos das leis, para encontrar os artifícios a serem empregados para inocentar ou, ao menos, atenuar as penas aplicadas aos clientes.

Não fui, portanto, fiel discípulo de Jesus, pois não me limitava a dispor-me ao lado da verdade. Antes, buscava, sempre que precisava, tendo em vista a culpabilidade dos clientes, ilaquear as provas, transformando o processo em algo de difícil decifração. Se os juízes não se opunham aos imbróglios, julgava-me estar no exercício pleno dos direitos.

Dessa maneira, consegui libertar da prisão até criminosos confessos, jogando, argutamente, com os dados disponíveis, aos quais acrescentava outros forjados para o efeito pretendido. Tudo rezado pelo catecismo mais difundido entre os pares nos tribunais.

Se havia riscos de derrota, buscava outros caminhos ainda mais escusos, de forma que até ameaças fiz a diversos jurados, na tentativa de extorquir deles veredicto favorável.

Nem preciso dizer que fui encontrar-me no Umbral com a maior parte desses criminosos, em condições de inferioridade moral, onde a defesa não representava coisa alguma perante as acusações da consciência. Acostumado ao jargão forense, ali o latinório não surtiu qualquer efeito, não tendo leis para citar, nem processos em que apoiar a argumentação.

Lembrava-me, vagamente, de que havia santos entronizados cujas vidas tinham sido tão ou mais miseráveis moralmente do que a minha. Mas as citações careciam de força, porque reproduziam o que ouvira dizer, sem fundamentar-me jamais em pontos da realidade que pudessem realçar a verossimilhança da oratória.

Durante muitos anos, falei em nome próprio, pois me considerava tão mal que não tinha por mim nenhum advogado militante.

Preciso esclarecer que, na profundidade do báratro, havia instituído solene tribunal, onde péssimos profissionais, caricatamente, exerciam os diferentes papéis, havendo júri constituído de leigos, exatamente de acordo com as diretrizes que norteiam os julgamentos na Terra, em tudo semelhante ao que se faz no Brasil.

Invariavelmente, eu, na qualidade de réu, era condenado. Insistia. Impetrava recursos. Exigia novos processos, em diferentes instàncias. Voltava a submeter-me a novo júri. Prosseguia condenado.

Um dia, ofereceu-se um dos amigos, conhecido rábula forense, a propiciar-me a defesa. Mais do que satisfeito, propus-me a narrar-lhe todos os fatos da vida. O intrujão enganou-me. Na hora da exposição, deturpou todas as informações, intensificando as cores dos crimes, fornecendo outros argumentos inidóneos para a acusação, de forma que me vi, irremediavelmente, nas mãos dos sicários daquela polícia, para o cumprimento das absurdas penas com que o juiz me condenou.

Preso, arremessado ao fundo de infecta cela, de onde só saía para visitação das ruas e praças, onde o povo me reconhecia pela vestimenta, toga mil vezes amaldiçoada, e me apedrejava, como que exercendo a mais primitiva das justiças.

Ferido, quase sempre desfalecido, era recolhido de novo às profundezas da desesperação, buscando forjar sempre argumentos que representassem real defesa, perante as acusações que partiam de todos os lugares, como se a consciência se materializasse e, em voz direta, se transformasse nas mais terríveis invectivas de culpa.

Estendo-me tão desproporcionalmente na descrição dessa fase da estadia na negritude do Umbral, pois isto pode ser útil à prevenção de algum desconhecido leitor que esteja, atualmente, exercendo as funções sagradas da defesa pública, mas com interesse outro que não a preponderància da justiça.

Certo dia, após ter labutado incessantemente na caracterização dos artigos em que me via incurso, imaginei que, se a magna constituição do universo se resumisse em dois ou três itens, talvez pudesse efetuar melhor a defesa.

Inicialmente, ao reconhecer tal necessidade, condensei a legislação que conhecia, tendo chegado a dois mil itens, nos quais baseei a argumentação, no próximo julgamento. Como houvera recuperado plenamente o exercício da vontade, pude levar ao tribunal aspectos lógicos, no sentido de demonstrar que a responsabilidade dos meus atos se diluíra pela humanidade, que havia institucionalizado aquela forma de jurisprudência.

Saí de lá escorraçado, condenado, mas não voltei mais para a prisão. Os membros do tribunal acharam muita graça nos dizeres e me liberaram para realizar novas peças absolutórias, com que esperavam divertir-se.

Na verdade, estava principiando a recondução intelectual ao campo da verdade e os parceiros me julgaram perigoso para a manutenção da farsa. Queriam-me longe dali.

Começou, então, longo período na erraticidade, sempre com a idéia fixa de redução das leis. Como a memória já se libertava das fortíssimas pressões dos fatos mais absorventes, comecei a vislumbrar elementos da formação moral, ao tempo da infància e da adolescência. No período adulto, sufoquei as pregações da família, da escola e dos padres. Mas começava, no etéreo, a recompor as lições primeiras.

Na ànsia de reduzir cada vez mais os dispositivos universais da justiça, atinei com a sabedoria de Jesus, considerando os mandamentos evangélicos os mais perfeitos. Mas não sabia como nem por quê. Apenas intuía que deveriam ser as leis mais importantes para a Humanidade.

Não se fez a luz nem se atenuaram os sofrimentos, mas as dores começaram a ganhar novas dimensões, pois se acrescentavam os primeiros reflexos da verdade, a promoverem os sintomas do arrependimento e do remorso. Cedia um pouco o egoísmo.

Pedem-me para abreviar, pois, a partir daí, a história é muito conhecida.

Pois bem. Não demorou para recordar-me dos princípios universais do amor. Revisei todas as passagens de existência à luz desse sublime conceito e percebi que todas as ações poderiam ter tido outro dimensionamento.

Roguei perdão a todas as criaturas que prejudiquei e ao Pai. Fui recolhido para esta instituição, na seção hospitalar, onde recebi os primeiros socorros. Durante a longa internação, não parava de pensar em como agir para desfazer aqueles poderosíssimos laços que me prendiam à materialidade mais grosseira.

Quando me senti revigorado, fui conduzido a centro espírita, local totalmente desconhecido. Na penumbra do ambiente, presenciei o encaminhamento de diversos irmãos sofredores, para os esclarecimentos iniciais da atual condição. Julguei tudo muito elementar, supondo-me, inadequadamente, como impossível de receber tais doutrinações, se para ali tivesse sido levado após o desencarne. Julguei que minha intelectualidade não seria compreendida e, dada a simplicidade daquelas mentes, achei que teriam perdido tempo.

Mas aprendera a respeitar aqueles que de mim cuidavam, não tanto pelos conceitos que me passavam, os quais considerava até por demais ingênuos, mas pela eficiência dos cuidados no alívio das dores. Foi por isso que me atrevi a solicitar deles um único esclarecimento: o que estaria eu fazendo ali?

Imediatamente, na parede do fundo do modesto salão, as letras de uma inscrição começaram a distinguir-se em meio à escuridão, para fazerem-se brilhantes, quase a me ofuscar a visão. Estava ali a solução final para a busca que empreendia desde há tantos anos:

Fora da caridade não existe salvação.

Reconheci que estava completa a minha legislação básica. De imediato, coloquei a frase sob condição, pois julguei que a caridade só teria importància enquanto o espírito não fosse capaz de assimilar e de aplicar as leis evangélicas superiores do amor a Deus e ao próximo, mas refleti que não estaria eu sequer em condições de entender a própria condensação que realizara.

Deixo estas anotações aos caros irmãos, modestamente, para que não percam o precioso tempo na confecção de qualquer códice superior de leis. Reconheçam, de pronto, que estas são as perfeitas e, se estiverem em condições de inferioridade, busquem aplicá-las no àmbito de sua atuação. Façam-no com o coração purificado pelas preces promissivas e saibam agradecer ao Pai as suas melhores bênçãos de amor.

Dagoberto.

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