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Cordel-->Mataram o meu sertão -- 15/08/2002 - 19:54 (Airam Ribeiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mataram o meu sertão

Quando vim para São Paulo
Seguindo uma procissão,
De gente desempregada
Dei adeus ao meu sertão,
Com os olhos todo molhado
Me doía o coração.

Segui pôr estrada afora
Em um carro pau-de-arara,
Deixando mulher e filhos
Levando tristeza na cara,
E com dois dias depois
Chegamos em Araraquara.

Com o tempo fui me acostumando
Sempre pensando em voltar,
Prá rever mulher e filhos
A todos poder abraçar,
Era esse o meu desejo
Para o sertão retornar.

O tempo foi se passando
E recebendo notícias de lá,
Um dia uma dessas notícias
Eu fiquei a preocupar,
É que o sertão estava mudado
Com as parabólica no ar.

Chegaram a luz de mercúrio
Iluminando tudo pôr lá,
Violeiros viraram roqueiros
Não se via mais o luar,
E a tv estava levando
Toda notícia de cá.

Fizeram esgotos nas ruas
Canalizaram embaixo do chão,
E jogaram esses esgotos
Bem dentro do ribeirão,
Deixando os peixes morrendo
Pôr causa da poluição.

Até a porteira do quintal
Está abrindo diferente,
Colocaram botão eletrônico
Prá facilitar prá gente,
E até mesmo a meninada
Já não são mais inocente.

Asfaltaram as estradas
Onde era o carreador,
Já não tem mais as poeiras
Nem o som do aboiador,
Não se ouve mais o cantar
Do carro de boi gemedor.

As meninadas já não brincam
Com as bolinhas de gude,
Já não fala mais mió
Trocaram pôr very good,
E transformaram em barragens
Aquele velho açude.

Não tem mais som das violas
Já não se faz serenata,
O povo já nem se lembra
Daquela vidinha pacata,
Nem ouve mais o cantar
Do sabiá lá da mata.

Está falando com o mundo
Pelo telefone sem fio,
Trocaram pôr lâmpada acesa
O candeeiro a pavio,
Já não carrega água no jegue
Porque acabaram com o rio.

Não faz mais o boi janeiro
O folclore está acabando,
O São João já não existe
O progresso está mudando,
Chegou aqui a internet
Que com o mundão tá falando.

Aqui tem caixa eletrônico
Que apenas com um cartão,
Solta dinheiro pôr um buraco
É só apertar um botão,
Estão fazendo até um campo
Para pousar avião.

Já tem até poço aberto
Com o nome de artesiano,
A água vem lá do fundo
Que logo entra nos canos,
E dentro de muitas casas
Nas torneiras sai jorrando.

Até aquele rancho fundo
Que estava bem afastado,
Já não está no fim do mundo
Tem casas já encostado,
E aquele luar do sertão
Agora está enfumaçado.

Tem aqui curso de inglês
Para o matuto aprender,
Já aprendeu falar you
Em vez de falar você,
É tanto my friend e very wel
Só vendo prá você crê.

Depois de saber das noticias
Me doeu o coração,
Fiquei triste acabrunhado
Derramei lágrimas no chão,
De ver o progresso acabando
E matando o meu sertão.

De: Airam Ribeiro - Itanhém-Ba-
26/05/2000
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