SAPATINHOS QUE NÃO ERAM DE CRISTAL
Quando criança, praticamente só andava de sandálias. Lembro daquelas de sola de borracha, que mamãe comprava no mercado e eram resistentes às estripulias no quintal e com elas eu também ia à escola. Para os dias de festa, eu tinha sapatos brancos, de pulseirinha no tornozelo. Quando maiorzinha, ganhei sapatos de verniz preto, do mesmo modelo.
A partir do “ginásio”, passei a usar mocassins marrons, que faziam parte do uniforme. Em casa, ou para sair, de início os sapatos eram comuns, sem salto. Só mais tarde é que comecei a andar de “saltinho”.
Um dia, lá pelos meus doze anos, tia Ceição trouxe para mim um par de sapatos da Itália. Como gostei deles! De camurça havana, eram diferentes, tinham um lacinho de cordão no calcanhar. Muito contente, fui com eles para a festa, num domingo à tarde. Lá chegando, que decepção. Todas as meninas de saltinho, só eu com aqueles sapatinhos... Houve até quem me olhasse de viés. Mas nem por isso deixei de conversar, e de aproveitar.
E o melhor de tudo é que dancei à beça com o menino mais bonito da festa.
Que não era príncipe nem nada. Nem eu saí correndo ao final, tropeçando e perdendo um pé dos meus sapatinhos, que não eram de cristal. Continuei a levar minha vidinha normal.
Beatriz Cruz
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