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Cronicas-->16. O DOMíNIO DO INVISíVEL -- 24/07/2001 - 05:58 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Muitas pessoas no mundo passam o tempo todo sob a influenciação direta de espíritos obsessores. Muitos até acreditam que os parceiros do etéreo sejam fortes o suficiente para disporem à vontade do bem e do mal, propiciando a uns felicidade e causando as maiores desgraças aos inimigos.

Não será preciso buscar entre os irmãos do candomblé para achar tais indivíduos, pois a existência deles se dá em todas as fés religiosas, até mesmo entre os que se encontram filiados às igrejas ditas evangélicas.

Como se dá tal influenciação? Muito simples: a pessoa se deixa envolver por halo de santidade e tudo o que faz atribui a Deus, sem intermediações. Desse modo, as inspirações vão parecendo-lhes as mais justas e corretas, até mesmo quando, desumanamente, submetem os filhos a verdadeiros suplícios, para que não lhes fuja ao domínio moral e religioso.

Tais convicções são tão poderosas, que são conhecidos os casos de assassinatos dos filhos pelos pais e vice-versa, quase sempre por terem ouvido vozes interiores, a determinarem tais tragédias.

Como é triste a conscientização desses seres no Umbral! São os que mais renegam a si mesmos, provocando milhares de suicídios, se assim podemos chamar as vergastadas físicas e morais, em tremenda autoflagelação.

Eu estive à beira de total falência, no último encarne. Filiada a uma seita radical, exigia dos filhos cega obediência aos preceitos e doutrinas daquela irmandade. Nós éramos profundamente alegres, pois todos os benefícios atribuíamos a Deus. Por isso, não compreendíamos que alguns de nós, após receberem o batismo pela água e pelo espírito, se atrevessem a afastar-se para o mundo exterior das perdições mundanas. Queríamos que o Pai não nos faltasse e parecia-nos que, se perdêssemos alguma das ovelhas, iríamos ter de responder pelo crime da falta de perseverança, pela imprevidência e pelo desamor, pois só tais razões justificariam a deserção do irmão ou irmã.

Foi o que se passou com dois de meus filhos. Meu marido não se importou muito, pois era um tanto ou quanto liberal, mas eu passei pela vergonha de ter de confessar à congregação os males que estavam atingindo o meu lar.

Rezei muito ao Pai para inspirar-me e foi o que me valeu naquelas horas de angústia. Entretanto, as vozes que ouvia atribuía ao demónio, pois sugeriam-me que os filhos estavam bem, que tinham tudo do bom e do melhor, pois eram ótimos pais de família e tinham desertado da igreja por terem conhecido pessoas por quem se apaixonaram fora do àmbito da religião.

Em suma, para não aborrecer demais os caros amigos, devo dizer que muito pelejei para afastar as sugestões de que deveria perdoar incondicionalmente aos serelepes. A graça, faço-a agora, para demonstrar inteiro sossego quanto às diretrizes morais e religiosas que se seguiram.

Como meu marido tinha certa importància na congregação, foram-lhe tiradas as prerrogativas, pois até pregações evangélicas tinha o direito de realizar. Desgostoso com a atitude de responsabilização, uma vez que nossos filhos eram maiores de idade - coisa não levada absolutamente em conta -, começou a afastar-se cada vez mais das diretrizes que tão bem conhecia.

Penso que muito favoreceu a deliberação a saudade que sentia dos queridos rebentos, os quais, por sua vez, não compreendiam como é que laços de amor tão estreitos pudessem ser rompidos somente porque desejassem frequentar outra instituição religiosa.

Eis-me, de súbito, sozinha no templo, pois sofria a rejeição de todos, principalmente daquelas que me eram as mais chegadas. A amizade não subsistiu ao primeiro impacto da defecção familiar.

Aí as vozes se intensificaram e eu não colocava muitas resistências às considerações. Um belo dia, precisei enfrentar a realidade da presença física das famílias dissidentes, trazidas até a casa pelo meu marido, que não suportou mais o meu distanciamento dos netos, que não tivera ensejo de conhecer, uma vez que me pareciam filhos do pecado.

Aquele dia foi de puro tormento para minha alma dividida. Mas prevaleceu o bom senso, pois a igreja não me estava proporcionando nenhuma segurança emotiva ou sentimental. Resolvi aceitar a realidade como coatora das ações e dispensei a prática religiosa que herdara de meus pais.

Foram dias de muitas lágrimas e graves incompreensões, mas as vozes estavam mais claras do que nunca, obrigando-me a raciocinar em favor da família.

Um dia, ouvi claramente a voz de minha mãe, elogiando-me a atitude. Precisei da fé anterior para desmentir a sensação daquela extraordinária presença, mas, lá no fundo da alma, sentia-me fortemente amparada e intensamente feliz. Começava a crer em que não eram vozes maldosas as que me incentivavam ao amor maternal.

Mas precisava de altar substituto e fui conduzida pelo meu marido para outra seita não tão radical. Meus conhecimentos bíblicos sofreram alguns impactos, mas, como as famílias de meus filhos só progrediam, atenuei a insegurança, com fé em que Deus é pai de imensa misericórdia e tem por todos os filhos o mesmo carinho e amor.

Estava completada a educação moral. Sentia-me revigorada e pude agasalhar no coração as noras e os netos, reservando-lhes lugar ao lado dos amados filhos.

Outras peripécias iria ter de enfrentar até o término dos dias, mas o relato seria por deveras custoso. Para simplificar, perdi, pouco depois, o meu marido e um dos filhos em desastre automobilístico, indo parar em diversos terreiros de umbanda, para o refrigério da comunicação. Nada encontrei. Retornei ao templo primitivo, mas tudo me soava inteiramente falso. Por fim, terminei encaminhada a centro espírita da chamada mesa branca, com a promessa de que iria sentir-me bem.

Foi então que minhas vozes se manifestaram pela boca de extraordinária médium, que soube traduzir a habitual terminologia que só eu conhecia na intimidade da consciência. Eram meu pai e minha mãe, que me consolavam e me prometiam assistência completa.

Se quiserem saber, não passei uma só hora no Umbral, não por méritos próprios, mas porque fui conduzida a um hospital, assim que me desembaracei da inútil carcaça.

Senti-me feliz ao extremo por ter sido recebida por todos os parentes, sem exceção.

Hoje, perambulo pela crosta em busca de auxiliar os familiares, com a determinação de me encontrar com antigos companheiros de seita, para poder fazê-los ouvir a minha voz. Não tenho conseguido acesso algum, pois rejeitam qualquer sussurro que lhes chegue à consciência. Muitos estão sob a doce influenciação de parentes, como eu mesma estive. A maioria, porém, vive rodeada de seres muito perversos, que estão constantemente fazendo-se passar pelo Pai, mas que só induzem à fixação dos preceitos mais sectários, isolando os crentes do restante da humanidade.

Que este simples apanhado possa colaborar para o despertar de algumas almas bondosas, no sentido de esclarecer estes aspectos tão importantes, para quem se destina ao amor do Pai e dos semelhantes, sem esquecerem de que devem prestar todo o auxílio possível a quantos necessitados encontrem pelo caminho.

Fiquem na paz do Senhor e orem com carinho, para que tenhamos êxito nas pregações evangélicas.

Pedem-me para dizer que, neste grupo, estou exercendo o papel de monitora, escalada para fornecer aos encarnados diferenciada experiência de vida. Que me seja permitido também dizer que, sem sofrimento, talvez a vida não valesse a pena, especialmente porque não progrediríamos tão rapidamente. Pensem nisto e busquem superar as aflições das almas.

Claudete.

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