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Humor-->O MINEIRINHO - A VINGANÇA -- 31/05/2000 - 22:23 (Mario Galvão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A mulher ficou ali, montada no burrico, enquanto ele subia as escadas que davam acesso ao casarão de taipa de pilão. O fazendeiro, cofiando os bigodões, refestelado na rede, botas atiradas a um canto, ajeitava os óculos para ler o jornal atrasado de três dias, que o caminhão leiteiro havia trazido da cidade.
Precisou pigarrear três vezes para que o Coronel desviasse atenção da manchete que trazia novidades sobre a sucessão presidencial.
"-- Sim senhor, e o que deseja vosmecê? perguntou o Coronel, dono de mais de trezentos alqueires de pasto que iam da Capela do Macuco, na Serra da Mantiqueira, até as barrancas do Paraíba.
Uma ds mãos apoiada no cinto largo de couro cru e outra coçando, desajeitadamente a base da cabeleira meio loira, o Mineirinho engoliu seco e conseguiu vencer o respeito quase religioso incutido pela mãe que insistia, cada vez que o patrão apontava, lá em Minas, na curva do caminho:
" Não se esqueça de tomá a bença do Coroné, meu fio."
A voz acabou saindo mais firme e alta do que pensava:
"Mi informaro que o Coroné tá percisado de um camarada prá roçá os pasto e ajudá no retiro, com o gado. Si é verdade, tô interessado..."
O Coronel sufocou a vontade de dizer que não. Não fora muito com o jeito daquele mineirinho espevitado, que fora entrando pela varanda adentro. Mas, resolveu mesmo pelo sim quando prestou atenção na mulher do matuto que continuava na sela do burrico, parado ao meio do terreirão de secar café.
Se havia coisa que o Coronel sabia fazer e bem era avaliar a mulher dos outros.
Ali estava um exemplar autêntico e representativo das caboclas das serras das Minas Gerais: rosto oval, sombrancelhas grossas, lábios bem vermelhos e carnudos, maçãs do rosto rosadas pelo contato constante da brisa da serrania, tornozelos bem torneados, pés calçados com sandalhinha de couro envernizado.
Meia hora depois o mineirinho já estava empregado e havia ganho a melhor casa de camarada da Fazenda, a da beira do Corgo do Gato.
Uma semana depois o Coronel tentava o primeiro assédio. Aproveitando-se da ausência do Mineirinho, que tinha ido fazer compras na cidade, foi à casa do camarada, como quem não quer nada, querendo, "prá mode tomá um cafezinho"
Os olhos verdes da menina da serra perceberam as intenções terceiras e quartas do Coronel, que chegou a roçar as mãos nas suas coxas, quando ela achegou-se à mesa para servir o café.
Quando o Mineirinho voltou, percebeu a mudança nos modos da mulher. Foi apertando, apertando e acabou por saber do acontecido.
O rapaz chegou a apalpar a garrucha de dois canos, escondida no fundo do embornal pendurado nas traves do teto, mas pensou, matutando um jeito melhor de encontrar a melhor revanche.
Trabalho em silêncio, como bom mineiro.
Nada mais disse, nem resmungou.
Três dias depois, quando o Coronel foi à uma fazenda visinha, para ver um lote de holandesas, o Mineirinho achegou-se à casa grande.
Quem estava na varanda, desta vez, era a esposa do Coronel, a feia e gorda Dona Guilhermina, que de mulher, a bem da verdade, só tinha uma virtude: os bolões de fubá que fazia maravilhosamente bem e que eram famosos em todo o fundo do Vale.
O Mineirinho achegou-se, de mansinho, e sem esta mais aquela foi sentando na cadeira de palhinha, bem defronte à matrona que, refestelada na rede, bordava no bastidor.
"-- Dona Guilhermina, eu preciso lhe falá uma coisa que sinto desde que me acheguei aqui nestas parages. Sou louco pela sinhora. Si a sinhora topá, nóis pode fugi juntos daqui, sem o coroné nem sabê de nada."
E estendeu os braços, fingindo-se apaixonado e guloso pelas gorduras da patroa, tentando abraçá-la e deitá-la na rede.
Os gritinhos que ela deu foram indescritíveis e, como se o demônio em pessoa tivesse surgido em sua frente, precipitou-se para dentro da casa grande, enfurnando-se no quarto do casal e trancando a porta com estrondo, agora aos gritos e uivos.
No começo da noite, quando o Coronel e mais cinco capangas, todos armados de carabinas, chegaram à porta da casinha da beira do Corgo do Gato ela estava aberta, escancarada. O Mineirinho estava longe. Já tinha fugido há muito tempo em companhia da mulher e do burrico.

Mário Galvão é jornalista e profissional de RP
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