VÔO TRANSATLÂNTICO
Meus filhos gostavam de viajar de avião. Manu, aos seis anos, comandava tudo e Emília, de quatro, seguia o irmão. O sofá era grande, ele se empoleirava num dos braços, de costas para as almofadas, com as perninhas balançando e ela sentava-se atrás dele, em posição de ioga, também virada na mesma direção.
Este é o nosso avião. Eu sou o piloto, dizia ele. Vamos?
Mas pra viajar, precisamos de roupas, lembrava ela. E lá iam os dois pegar o “necessário”. Traziam para a sala todas suas roupas. TODAS. Que eram dispostas em montinhos nas almofadas restantes.
E os brinquedos? É mesmo! Iam pegar. Carrinhos, barbies, livros, revistinhas, bichinhos de plástico, de borracha, de pelúcia, pecinhas de lego, super-homem sem perna, batman sem braço... tudo ia pra cima das roupas.
Agora podemos ir. Logo o barulho das turbinas se fazia ouvir, saído dos lábios de Manu. Pra onde vamos? perguntava ela. Pra França, a viagem vai ser longa. E não vamos comer nada no caminho?...
Correndo, os dois iam pra cozinha. Voltavam com pacotes de bolacha, caixas de gelatina e potinhos de danoninho, que também se juntavam à já volumosa bagagem.
Finalmente a aeronave partia, com o comandante barulhento e a passageira dando gritinhos de alegria. Em geral, no meio da viagem, quando sobrevoavam o oceano Atlântico, eu abria a porta da sala. Amerissagem forçada.
Confesso que eu não sabia se chorava ou se ria...
Beatriz Cruz
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