(1906-1926)
Oh, sofrer ! Minha mãe me demole.
Ali eu me construí, pedra sobre pedra,
e ergui-me como uma pequena casa,
em torno da qual o dia fica enorme
mesmo a sós.
Agora vem a mãe, vem e me demole.
Ela me demole, quando vem e observa.
Ela não vê isso, uma pessoa que se constrói.
Ela me prensa na parede de pedra.
Oh, sofrer! Minha mãe me demole.
Os pássaros me circunvoam à vontade.
Os estranhos cães sabem: este é ele.
Somente uma coisa minha mãe não conhece,
minha face lentamente mais feita
Entre nós nunca houve laços com fervor.
Ela não vive lá onde estão os ventos.
Ela mora num nobre coração, astuto,
e Cristo vem e a purifica diariamente.
Rosa, oh puríssima contradição, prazer,
impossível dormir sob tantas
sombras.
BAUDELAIRE
Para Anita Forrer/ Aos 14/04/1921
O singular poeta unificou o mundo,
que segue despedaçando-se.
Ele provou que existe a ultrajante beleza,
pois, como ele mesmo ainda festejou o que o atormentava,
foi finalmente libertado da ruína:
e, também, o mundo ainda se aniquila.
Além disso um sinal no espaço, o pousar da pomba
que faz vôo rasante para desempoeirar-se na água,
e alegrar-se nas bordas redondas da fonte.
Como ele chega imponente à receptiva superfície
com sua tranquila superioridade
para depois se estremecer.
Falta-vos uma festa: celebrai o pouso dele, reuncia
à imperceptível ascensão calado com seriedade,
reconhecendo-se em meio à pura agitação.
Todos os meus adeuses são fatos. Tantas as partidas
que formaram minha lenta infância.
Mas, eu aindo volto, eu recomeço,
esse franco retorno libera meu olhar.
O que me resta é expandir,
e minha sempre impenitente alegria
de ter amado as coisas rememoráveis,
a essas ausências que nos fazem agir.
(Vergers)
Que noturna calma, que calma
nos penetra do céu.
Dir-se-ia que refaz-se na palma
dDe vossa mão o desenho essencial.
A pequena cascata canta
para esconder sua ninfa comovida ...
Sente-se a presença apática
pelo espaço absorvida.
Caminhos que vão a parte alguma
entre dois prados,
que dir-se-ia com arte
de seus fins desviados,
caminhos que frequentemente não
são frente a eles nada de outra face
entre o puro espaço e a estação
(A pequena cascata, quadras valaisianas, ou do Valais)
*************************************************
Ach wehe, meine Mutter reisst mich ein
Da hab ich Stein auf Stein zu mir gelegt,
und stand schon wie ein kleines Haus,
um das sich gross der Tag bewegt
sogar allein.
Nun kommt die Mutter, kommt und reisst mich ein.
Sie reisst mich ein, indem sie kommt und schaut.
Sie sieht es nicht, dass einer baut.
Sie geht mir mitten durch die Wand von Stein.
Ach wehe, meine Mutter reisst mich ein.
Die Vögel fliegen leichter um mich her.
Die fremden Hunde wissen: das ist der.
Nur einzig meine Mutter kennt es nicht,
mein langsam mehr gewordenes Gesicht.
Von ihr zur mir war nie ein warmer Wind.
Sie lebt nicht dorten, wo die Lüfte sind.
Sie liegt in einem hohen Herz-Verschlag
und Christus kommt und wäscht sie jeden Tag.
Rose, oh reiner Widerspruch, Lust,
Niemandes Schlaf zu sein unter soviel
Lidern.
BAUDELAIRE
Für Anita Forrer/zum 14.April 1921
Der Dichter einzig hat die Welt geeinigt,
die weit in jedem auseinanderfällt.
Das Schöne hat er unerhört bescheinigt,
doch da er selbst noch feiert, was ihn peignigt,
hat er unendlich den Ruin gereinigt:
und auch noch das Vernichtende wird Welt.
Auch dieses ein Zeichen im Raum: dies Landen der Taube,
die sich aus flacherem Flug, im Wasserstaube
an die gerundete Randung des Brunnens hebt.
Wie sie ankommt dem endlos gebenden Wasser entgegen,
ihre ruhige Herkunft hinzuzulegen
zu dem Übergehen das bebt.
Fehlt euch ein Fest: Feiert ihr Landen, begebt
den unscheinbaren Aufschwung verschwiegener Schwere,
der im reinen Aufruhn sich eingesteht.
Tous mes adieux son faits. Tant de départs
m’ont lentement formé dès mon enfance.
Mais je reviens encor, je recommence,
ce franc retour libère mon regard.
Ce qui me reste, c’est de le remplir,
et ma joie toujours impénitente
d’avoir aimé des choses ressemblantes
à ces absences qui nous font agir
( Vergers)
Quel calme nocturne, quel calme
nous pénètre du ciel.
On dirait qu’il refait dans la palme
de vos mains le dessin essentiel.
La petite cascade chante
pour cacher sa nymphe émue...
On sent la présence absente
que l’espace a bue.
Chemins qui ne mènent nulle part
entre deux prés,
que l’on dirait avec art
de leur but détournés,
chemins qui souvent n’ont
devant eux rien d’autre en face
que le pur espace et la saison.
(Petite cascade, Les quatrains valaisans)