Abri a porta e lá estava ele.
Encarou-me com olhar de gato esfomeado. Todos eles são assim: miam o tempo todo, estando ou não famintos.
Mania de gato.
Este,porém, era diferente. Alguma coisa dizia-me.
Assim que me instalei na poltrona ele se ajeitou.
Ininterrupto na sua observação sutil. De quando em vez, piscava aqueles olhos de um verde estonteante.
Por que todos eles têm os olhos verdes estonteantes?
Nem todos. Parece-me que já vi um, cujos olhos eram azuis. Da cor do mar. Também há mares azuis e mares verdes. O Oceano Pacífico, por exemplo, é azul.Ou será verde? Nem sei.
Oceano é tudo igual.
Menos o Glacial. Esse, é todo branco. Repleto de geleiras.
Agora, os olhos deste gato aí, são verdes mesmo.
Sem discussão.
Taí. Conheci um gato,com olhos de duas cores. Não acredita, né? Pois eu conheci na casa da minha madrinha. Ele era diferente dos outros. Coisa mais estranha - um olho azul e o outro, bem verdão. Até parece maluquice minha, mas eu o vi de verdade. Pergunte a ela, a minha madrinha.
Qual o quê? A minha madrinha já é falecida, coitada. Também se estivesse viva, nem lembraria. A sua cabeça não andava muito bem.
Voltando ao gato: este, era um gato branco, forte, angorá. Bonitão ele. Estranho chamar gato de bonitão. Mas ele era.
- Continua aí me vigiando, não é seu "pilantrinha"?
Não largou do meu pé desde que eu entrei em casa. Deitado assim na poltrona, do meu lado, até parece querer me paquerar.
Lambeu-me as mãos e foi sempre se encostando mais e mais. O seu pelo macio tocou a minha pele e o aconchego foi recíproco. O cansaço tomou conta do meu corpo e logo adormeci. Não sei por quanto tempo.
Quando me despertei, ele continuava ali, aconchegado a mim, acariciando-me. Rosnava baixinho.
Levantei-me. Fui até à cozinha. Preparei um leite fresco. Ele entendeu e acompanhou-me. Bebeu com sofreguidão. Lambeu o bigode e lançou-me um olhar agradecido.
Naquele momento, tive uma ligeira impressão de que realmente, nos tornaríamos bons amigos -"Biju" e eu.
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