Todo o alarde que a terra permeia,
Parece lançar uma espessa névoa,
Sobre o tempo presente que arde,
Onde latente por novo sol anseia.
Mas o cego fogo do esquecimento,
Pretenso anular da ira desta turba,
Tenta abrir veredas em seu árido colo,
Para corromper o seio do firmamento.
As muralhas erguidas aos poucos,
Traduzidas em palavras e versos,
Mostram o afã das contraditórias,
Que lutam para obstar esses loucos,
Ó, insonte cobiça de roubar a lua,
Donde a ilusão do moderno ébrio,
Ébrio da vindoura pílula de enol,
Lance triste olhar de vaga inspiração.
Se de tão distante puder observar,
Ainda que embriagado de ilusão,
Para a longínqua e intocável terra,
O homem sempre desejará voltar.
Esta página descreve meus passos,
Neste mundo que em versos caminho,
Porque neles vou além das nuvens,
E no éter é que minhas forças refaço.
Também outros na nebulosa eu vi,
Se atracando com falsos movimentos,
E ao vencerem o labéu e a corrupção,
Em sua régia altivez voltaram aqui.
Posso gritar uma lira mais atroz,
Já que os poemas exaltando a vida,
Permanecerão calados em minh’alma,
Pois de tanto amar calei minha voz.
AdeGa/2000
|