Tenho um grande vazio,
que percorro nas noites
e atravesso nos meus dias,
como quem preenche um vaso
e nele prende, da flor só a magia.
Ouço acordes do silêncio,
que amordaça a voz do vento
[e no sono perturba os pesadelos,
como se a dor encontrasse alívio,
na inércia dos seus conselhos.
Vejo o pasmo das distâncias,
que refugiam as lembranças
[e arrancam delas todo sentido,
como se ali desejassem,
instalar o oco, vago dolorido.
Sinto a leveza das plumas,
que pairam suas aves no cimo
[e tudo vigiam com indiferença,
como se pensamentos fossem,
no tempo, vagar pela descrença.
Corro pelos campos da mente,
que alimenta idéias e ideais,
e nela sublimam as inspirações,
como da água carecem as plantas,
na terra que absorve sem objeções.
Continuo (?) percorrendo o vazio,
que acaso é toda minh’alma
e faz da passagem desta vida,
como versos a compilar poemas,
uma dádiva, ainda que sofrida.
AdeGa/97
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