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Contos-->CLOSE DE UMA GOZADA NA CARA DA MULHER AMADA -- 20/11/2001 - 01:15 (denison) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Entrou no quarto de sopetão com uma câmera digital e "Flash"... Alberto flagrou o momento exato em que o amante da sua mulher gozava no rosto dela.
O que aconteceu depois eu não quero entrar em detalhes aqui, mas falarei sobre o instante mágico capturado pela objetiva.

Depois de ver a foto Alberto percebeu que "roubou" o instante exato em que um fio de esperma era projetado impiedosamente da glande do sujeito em direção ao rosto ainda límpido e surpreso de Flávia. Um instante depois, o rosto já estaria sujo e desvirginado, mas Alberto "ainda" o flagrou virgem. Aquilo não era apenas um segundo parado no tempo, como dizem - um segundo é tempo demais - aquilo era um INSTANTE milagroso, único, autêntico. Um ponto desprezível na escala do tempo, tendendo à zero.

Contemplando a face receptora de sua mulher, na foto, Alberto percebeu também o quanto a nudez do rosto pode ser maior que a do corpo. O rosto se transforma, fotograficamente, num campo de batalha transcendental travada em meio à uma geologia não menos inquietante. São crostas, carcaças falhas, espinhas, abismos dentários, fios de cabelo, pele rebocada com camadas espessas de maquilagem, Cleópatra moderna, Garbo hermafrodita.

Fotografar é a arte de congelar o tempo com uma precisão técnica que a pintura não pode atingir. A foto é a morte da imagem, e, como acredito que o ato de contemplar é uma forma inteligente de violência, Alberto, ao contemplar aquele instante único e poder guardá-lo na consciência, violentou cruelmente os dois amantes, roubou-lhes uma cena que eles mesmos não guardaram em detalhes.

Aquele instante de gozo do amante de Flávia capturado pela foto é tão pequeno, tão fino, tão sutil, que passa pelos furos microscópicos dessa peneira que é a memória humana, esta rede que a memória estende afim de capturar os objetos; mas a memória só registra os momentos. Instantes são menores que momentos. A foto, logo, é um milagre sobrenatural, sobre-humano.

No momento da fotografia podemos nos lembrar das pessoas ao redor, do que foi dito,da posição de todo mundo, de cada detalhe da paisagem, mas não há na consciência a experiência exata, clara, discernida do instante em que a face gloriosa foi capturada, violentada; e que tipo de glória foi convocada dentro de nós que nos tornou aptos a vibrar na mesma frequência, criando o instante em que o botão foi pressionado.

Alberto não pôde negar que aquele rosto desnudo era uma frase misteriosa, surpresa estonteante, cômica, às vezes, poética, debochada, a alegria da carne em dobras. À esta altura, Alberto percebeu uma grande verdade na arte da fotografia: que de cada rosto só há uma imagem possível, e assim se deve proceder durante a captura. A imagem da face de sua mulher era aquela; e esta única imagem possível é o coelho desta caçada impiedosa.
Fotografar é caçar.
Percebeu o verdadeiro papel da Arte em geral: Desnaturalizar, violentar e estuprar, caçar e esquartejar em dentadas a Realidade à nossa volta.
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