O ministro alemão das Relações Exteriores Joachim Von Ribbentropp abre um
sorriso para a lente fotográfica, em setembro de 1939*. Ao seu lado está Joseph Stálin,
presidente da U.R.S.S., usando um casaco branco com enormes botões. Eles acabaram
de assinar o “Pacto Nazi-Soviético”, um acordo de não-agressão mútua entre os dois
países. Era o prenúncio de uma grande guerra. Nada de mais numa antiga fotografia. Mas
o que me chama atenção é a personalidade de Von Ribbentropp. Comparando-o em outra
fotografia - no julgamento de Nuremberg -, alguma coisa mudou. Em 1939, o sorriso
empresta aos olhos tranqüilos, a satisfação de um projeto realizado. O ministro, de peito
erguido, apresenta o ar da superioridade, da confiança, da certeza de que tudo está
caminhando a seu favor.
Na outra foto, de outubro de 1946**, ele parece muito magro. O peito robusto
deixou de existir. Não há o sorriso e os olhos pairam sobre profundas olheiras. As maçãs
salientes de sua face já não são mais as mesmas. Há um rosto liso, duro, feito de granito.
O cabelo, bem grisalho e raro, está em desalinho. Sua expressão parece dizer: “O que
estou fazendo aqui?” ou “O que é que eu fui fazer?”
Ele não está só em 1946. Seus compatriotas Julius Streicher, Hermann Göring,
Rudolf Hess e Wilhelm Keitel dividem o mesmo banco dos réus. Estes oficiais alemães
quando não estão com seus quepes e suas fardas parecem senhores respeitáveis e
ninguém suspeitaria das atrocidades que cometeram. Em ambas as fotos, Von
Ribbentropp mantém o vistoso terno e gravata e o idêntico “cruzar de braços”. No prazer
de assinatura do pacto ou no desgosto de ser julgado, a posição do braço direito por
sobre o braço esquerdo, a mão direita escondida e os dedos da mão esquerda à vista é
impecável. Detalhes visíveis num curto espaço de sete anos. É o instante mágico da
fotografia sempre querendo me impressionar.
(*) A fotografia de 1939 de Von Ribbentropp e Joseph Stálin encontra-se no livro
“Segunda Guerra Mundial - História Fotográfica do Grande Conflito”, de Charles Herridge,
editora Círculo do Livro S/A., São Paulo.
(**) A fotografia de 1946 reunindo os criminosos de guerra está no jornal “O Globo”,
caderno “O Mundo”, domingo, 06 de outubro de 1996.
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