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cronicas-->Miami, 22 -- 22/03/2000 - 08:42 (José Ernesto Kappel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fui ajudar a vizinha a lavar roupa - coisas de homens -. Muita roupa pra lavar. Bate daqui, bate dali, é sempre a vizinha que toma a dianteira no bate-bate. Ela lava as meias marido enquanto angustia a vida. Ela é muito inteligente e pertinaz, além de compreensiva. Ele veio lá do Norte, de um prostíbulo muito chique - destes que estão cheios no Rio. E se deu mal. Diz ela que se apaixonou sinceramente. Ela diz: Vitório - é o meu nome -, antes amava dez homens por noite e ainda recebia por isso. Hoje sou maltratada pelo esposo - um carpinteiro e obrigada a gostar dele. Fica tedioso!. Eu concordo. - Vitório me passe as cuecas dele. E lá vou eu a ajudar a pobre vizinha.

Quando tudo ficou pronto, tomamos vinho,alisamos os lençóis da cama de casal e dormimos - entre outras coisas - até quase às 6h. O marido costumava chegar às 8h. No final a pobre mulher ainda me pediu uma nota de 10 , dizendo que precisava comprar café. Dei o dinheiro comovido. Pobre vizinha essa Filomena!

É tudo muito complicado. A toda hora me pedem carinho como se eu fosse fábrica ou fornecedor de carinho.Pego o bonde das quatro e fico olhando a paisagem passar lenta. E imagino: como há gente sem fazer nada na vida. Um pra cá outro pra lá. Todos pra algum lugar, carregando bolsas. Fico imaginando que vida complicada a minha. Aos domingos fico vendo a partir das 8 da noite o marido embriagado ralhar com a mulher. Ela chora avulsos de lágrimas inocentes enquanto eu me penduro mais na janela pra ouvir os palavrões. Tudo, tudo muito complicado. Um outro vizinho me chamou para tomar banho na casa dele. E eu medito: porque tal homem ia querer que lá me banhasse? Descobri o segredo horas depois, mas por força de minha moral não posso revelá-lo em público sob pena de ter de me confessar. Coisa que não faço há mais de 20 anos, e então fica tudo complicado.

O bonde estaciona, como um majestoso corcel, rangendo os trilhos e todos debandam. Saio e vou andar um pouco. Atravesso ruas e avenidas e me lembro de Miami. Como são imensas e vazias as ruas de lá! Nunca fui à Miami, mas a imagino com fervor.Com aquelas avenidas grandiosas qualquer um faz filme de mocinho e bandido por lá: os carros correm, dão tiros e ninguém vê! Deve ser complicado, mas eles fazem. Chego na casa da amante e tomamos chá com uísque.. Eu tomo mais uísque do que chá. Degusto um bolinhos de bacalhau e tomo mais uísque. E Miami? Como será a noite lá? Garanto que a essa hora eu não estaria num quarto sozinho, vendo os carros passarem ao largo das avenidas.

Quero explicar, mas é muito complicado. Afinal de contas vou dormir no quarto das crianças onde não há crianças. O que me deixa amuado e sem graça. Acabo com toda a bebida e vou dormir pensando na vizinha que lava as roupas do marido.Pobre mulher! Pior que minha amante que foi dormir mais cedo porque estava com cólicas! Difícil, muito difícil de explicar.

Sonho com Miami e depois com mulheres avulsas. No dia seguinte levanto às 4h da manhã e vou correndo as ruas. E digo: se ela passar é por pura comodidade. Se eu passo é por coincidência. E assim atravessamos a vida. Já corri de boate em boate atrás de uma parecida. Mas é muito complicado para explicar.

Coz e agullhas espetam meu seu rosto imaginário. Em Miami - penso eu - estaria num shopping com a família, tomando sorvete e lendo The New York Times. Como não sei inglês, passo na primeira banca e compro Notícias Populares. Deus esconde as boas mulheres. Há poucas saídas quando se procura uma. Em Tijuana, tomei tequila. Em Vegas fui pedinte e lavador de pratos. Tudo porque tinha perdido alguma coisa que já nem sei o que é. Tomei vinho com prostitutas.Me perdi nas noitadas da paulista, onde pouco se dorme se você tem algo pra vender.. Então fui até Marisco tomei um ónibus, meio calhambeque, e subi montanhas. Foi ai que conheci a escravidão. Mas é muito complicado, tudo muito complicado para explicar.

Hoje ainda atravesso a rua por coinciêndia e ela cruzas as avenidas por puro acaso. E Miami? Bem, um dia vou até lá comer cachorro quente fazer uma ponta num filme pornó.Pois bem disse o viajante: todo filme pornó do mundo vem de Miami. Mas como gostaria de estar lá, com alguém de paz e carinho, coisas em que sou muito reduzido.

Volto pra casa e lá vou eu ajudar Filomena e lavar a roupa do marido enquanto sonho com Miami.


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