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Cronicas-->18. IMPERMEABILIDADE DOUTRINAL -- 28/07/2001 - 16:53 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Começarei o relato pela minha história, conquanto esteja tentado a me esparramar por considerações teóricas, por razões que já se compreenderão.

Tive muita felicidade em ter nascido em berço espírita, de forma que, desde muito pequeno, convivi com as normas de conduta emanadas diretamente de O Evangelho, na edição de Kardec.

À época, os meus pobres pais levaram tudo muito ao pé da letra, de modo que o que deveria ter-se constituído em profunda alegria de vida, foi o acicate tenaz a me espremer o cérebro, muito pior do que se tivesse tido lar católico ortodoxo ou o mais ferrenho dos pastores evangélicos como pai.

Ao contrário do que se poderia esperar, alegrava-me com a possibilidade de ser dono da verdade e não me abalei com as transformações psíquicas da adolescência, penetrando na maturidade plenamente convicto da fé religiosa.

Lia Kardec, lia os demais autores espíritas, mas não atinava com a necessidade de qualquer reforma íntima, crente de que a minha formação me bastava.

Em suma, para não entediar os leitores, fui dar com os burros n´água, quando intentei o mesmo procedimento relativamente aos meus filhos.

Agora estou em condições de avaliar a necessidade que tive de receber entidades bastante contestadoras, para não dizer francamente rebeldes.

Foi um deus-nos-acuda moral em casa e no centro. Não cheguei jamais a entender, durante a vida, que os filhos sequer pudessem levantar a hipótese de contrariar os dispositivos doutrinais que lhes incutira na mente, desde a mais tenra idade.

Se os amigos protetores se manifestavam, para que mantivesse a calma, dando à razão condições de prevalecer, exigia deles explicações muito claras a respeito dos tópicos evangélicos em que se baseavam para tais assertivas. Compreendia que poderia estar a merecer aquele carma pungente, mas não via por que os queridos rebentos devessem viver sob a perene ameaça de serem, de uma hora para outra, arremessados nas profundezas do Umbral.

Não cheguei ao extremo da excomunhão, pois, afinal de contas, algum esclarecimento tivera, mas não me satisfazia com as tímidas ações dos amigos da espiritualidade, que permitiam que as pobres criaturas vagassem pelo mundo material, acicatados por tenebrosos pensamentos, sob a influência - isto me parecia naturabilíssimo - de negros e infelizes representantes do báratro infernal.

Perdoá-los, não me cansava de fazê-lo, mas da boca para fora. Dentro do coração, ardia-me a chama voraz da pior vergonha perante a comunidade.

Certo dia, após dez longos anos de agonia, instrutor amigo chamou-me às falas, pedindo-me concentração para o serviço mediúnico. Era a gota que faltava para me desesperar de vez.

Como é que alguém se deu ao atrevimento de tanta ousadia?! Não fora eu formado, criado e educado naquele santuário de amor fraterno? Não tivera dado tantas mostras de desprendida caridade, em todos os setores da instituição?!

Mas me valeu o banho de água fria. Voltei para casa crente de que havia falhado tremendamente e, a partir de então, comecei, com toda a seriedade, a trabalhar para o conhecimento das leis aplicadas ao caso, particularmente aquela referente às causas e efeitos. Fi-lo com o maior rigor científico, deixando de lado a parte emotiva que tanto me prejudicara.

Dois anos após, abandonei a carcaça terrena e ingressei no etéreo, tendo sido recebido em júbilo por toda a família.

Benditas reflexões!

Entretanto, não foi sem luta que me alcei à condição de aluno desta Escolinha, pois precisei vencer as resistências adquiridas por tantos anos de intransigências. Se adquiri méritos para não me ver arremessado no Umbral, por outro lado, muito precisei da ajuda dos maiores, para poder reequilibrar-me, sem correr o risco de me perder por excesso de rigor.

Jesus é o mestre amigo que nos ensinou a perdoar e a amar. Tais pontos fundamentais do evangelho eu absolutamente não conseguira fazer enfronharem-se no coração. As reações eram de déspota que, sabendo das más consequências das ações erradas, não permitia que os subalternos tivessem as próprias experiências e chegassem às conclusões por si mesmos.

O pior de tudo é que, a cada novo esclarecimento, a dívida com meus progenitores acrescia de alguns débitos mais, pois ia responsabilizando-os pelos maus hábitos, inconsciente para as circunstàncias adversas em que trabalharam para a minha educação.

Ainda agora tenho rezado muito ao Senhor para adquirir pleno conhecimento de cada pequenino ato em que falhei na interpretação doutrinária do Espiritismo.

Fui trazido até esta mesa com muito medo de ofender aos espíritas de convicção e fé inabaláveis. Poderá parecer-lhes que estou manifestando a idéia de que a rebeldia seja útil para o aprendizado das verdades da doutrina. Se pensarem assim, solicito que me desculpem as falhas de comunicação, pois o meu real desejo é o de demonstrar que existe a necessidade de certa permeabilidade doutrinária, no que tange ao ensino que se deve ministrar às crianças e adolescentes.

Se há muito conforto e muita segurança nos cursos de evangelização ministrados para a mocidade espírita, é preciso não olvidar que, acima dos cànones teóricos, existe a conjuntura existencial de quem se vê presa da matéria em especiais circunstàncias quanto aos problemas de ordem espiritual.

Que a transição para a idade adulta seja o mais livre possível, é o que pretendo deixar registrado, em conformidade com as próprias experiências, já que não me atrevo a falar em nome dos mentores, que me sopram ao ouvido que há inúmeras diferenças individuais a determinarem reações absolutamente distintas.

Sendo assim, que o remédio de que me servi possa ser utilizado com proveito pelos amigos, qual seja o do recolhimento espiritual, para, através de profunda meditação, chegarem à conclusão de que fazer o bem é tudo o que se pede ao bom espírita.

Rogério.

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