LÁ SE FORAM OS CARACÓIS...
Com cinco anos, Ana Emília tinha os cabelos pela altura dos ombros. Gostava de enfeitá-los com uma flor, ao lado da orelha, ou uma faixa colorida. Mas também gostava de ir à piscina, o que em épocas de calor, acontecia com freqüência. E depois, quem é que desembaraçava aquela cabeleira?... A mamãe aqui, só podia ser!
Apesar do condicionador e do creminho pra amaciar, muitos fiozinhos fininhos formavam nozinhos de arrepiar. Onde nem as cerdas da escova, nem os dentes do pente conseguiam entrar. Eu agia com cuidado, tentando não repuxar, mesmo assim ela gritava e esperneava. De nada adiantava, quanto mais ela chorava, mais difícil a situação ficava. Tudo por causa do cloro, que além de ressecar, até o cabelo da menina esverdeava.
Cansada da diuturna operação, um belo dia resolvi simplificar. Fomos ao cabeleireiro. Lá chegando, eu disse à moça que podia cortar. Ana Emília ficou quietinha, nem reparou nos caracóis que voavam, em direção ao chão. Acabada a função, olhou-se no espelho e deu um risinho. Gostou. Ouviu alguém falar em Joãozinho, não entendeu a citação...
Na manhã seguinte é que se deu conta. No colégio, seus maiores amiguinhos – dois diabinhos – riram dela pra valer. A professora interveio, ralhou e explicou: meninas, quando querem, podem ter os cabelos bem curtinhos. Furiosa, Ana Emília fechou a cara, não deu mais um pio. Nem na hora do recreio.
E também passou três dias sem falar comigo. Muito tempo depois, é que entendi o porquê. Ela pensava que nunca mais seu lindo cabelinho, castanho clarinho, ia crescer...
Beatriz Cruz
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