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Cronicas-->19. SOFRER NÃO PECADO -- 28/07/2001 - 16:55 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Embora o objetivo maior da existência seja a bem-aventurança eterna, estado de felicidade completa, cuja concepção estamos muito longe de compreender, nem por isso aqueles que se debatem nas trevas da ignorància têm de ser acusados de qualquer coisa. Se os deixarmos às voltas com a consciência culpada, verificaremos que, em pouco tempo, estarão solicitando socorro e conforto dos demais, momento em que procuram consolar-se para alívio das dores.

Está claro que, não sendo ninguém perfeito, todos nós temos fases de depressão e fases de euforia. Se tivermos companheiros solícitos e leais com quem compartilhar os sofrimentos e as alegrias, verificaremos que as energias recebidas nos darão forças para suportar as vicissitudes ou a felicidade, para elevarmo-nos na escala da espiritualidade.

Muitas pessoas, entretanto, não concordam com este ponto de vista, pois, almejando a perfeição desde já, julgam que todos deveriam superar o desespero, a agonia, a angústia e demais misérias humanas, tão-só por terem firme a convicção de que Deus é pai de misericórdia e a todos acudirá na hora oportuna.

Certamente, as virtudes da fé e da esperança são sublimes e jamais devem apartar-se do repertório de emoções. Contudo, nem sempre a dor reflete sensações oriundas de problemas pessoais. Não é natural que Jesus tenha sofrido com os horrores das injustiças que via os inimigos perpetrarem, compreendendo, de forma absoluta, quais os deveres que estavam postergando, em prejuízo próprio? Se conseguirmos conceber a dor do Mestre, quem somos nós para intentarmos ser superiores a ele?

Sabemos que simples argumentos, muitas vezes, não têm o condão persuasivo para almas muito renitentes nas opiniões formadas. Todavia, insistimos em que a mágoa de um momento pode justificar-se plenamente.

Vem à lembrança do médium caso que comprova o que vimos dizendo. Viu-o em transmissão cinematográfica pela televisão.

Em determinada rebelião terrorista, foi um jovem feito prisioneiro. Estando totalmente dominado, jazia no chão, indefeso. Aí dispararam contra ele, covardemente, traiçoeiramente. Um jornalista conseguiu gravar o choro e as lamentações de quem exprobrava a ação criminosa, em pungente demonstração de completa rendição. Não oferecia perigo e foi atingido mortalmente. Não demorou para o choro cessar. Estava morto.

Sabemos que existem seres totalmente conscientes da simplicidade que representa a passagem para esta outra dimensão. Para quem está deste lado, então, a morte corrói o significado da perda e, muitas vezes, adquire a excelsa condição de passaporte para a felicidade, a tranquilidade, a segurança do companheirismo e os braços do amor. Mas tal não era o caso do jovem em questão.

Não seria justo esperar que se rebelasse e procedesse a acusações muito sérias contra os algozes? No entanto, lamentava a perda da vida, talvez lembrando-se do que fizera anteriormente, para acabar sob o tacão da soldadesca desalmada. Sofreu e, por certo, com inteira razão, achasse muito justo que assim fosse, diante das circunstàncias. Ter-se-ia envergonhado dessas lágrimas? Pois não achamos que devesse fazê-lo. E, se perdoou os desafetos, acresceu pontos imensos em seu favor. E, se chorou por eles, eis aí motivo para que nos sensibilizemos com tamanha grandeza d´alma.

Estou longamente apresentando esta introdução, para justificar a mim mesmo.

Em vida, foram muito poucas as vezes em que me senti culpado a ponto de me arrepender de alguma coisa. Não tinha conhecimento do Espiritismo nem me dei ao trabalho de compreender profundamente os ensinos de qualquer religião. Agia instintivamente, procurava fazer o melhor que podia, reconhecia os erros meus e dos outros, especialmente destes, aceitava pacificamente a necessidade do castigo, exigia a recompensa pelos atos bons e jamais admiti a hipótese de que o sofrimento devesse existir. Censurava as lágrimas dos outros e fechava o coração às emoções.

Perdi um filho ainda infante e providenciei o enterro, sem uma única lágrima. Quase desmancho o casamento, ao exigir contenção da esposa. Dizia-lhe que iríamos gerar outras crianças e que, se existia morte, era lei inexorável da natureza.

Na verdade, fora acostumado a conter o pranto desde pequeno pela severidade paterna, que não admitia que, uma vez castigado ou surrado, deixasse escorrer qualquer lágrima. Não queria dizer, mas sou obrigado a me lembrar que tal atitude meu pai trouxe da velha Europa, das boas terras da pátria-mãe.

Acostumado a engolir os sentimentos, alheei-me completamente das reações ditas femininas, buscando o arquétipo masculino com que moldar a personalidade. Sendo assim, transformei aquele pavor que me incutiram em fator psicológico do machismo dominante, contendo-me à vista de qualquer acontecimento em que as pessoas se vissem injustiçadas, magoadas, perseguidas, feridas ou simplesmente frustradas. Achava, quando me deparava com alguém sofrendo, que era pura covardia ou mera falta de pundonor.

Vejam que não pensei jamais em que o pranto pudesse esconder, maliciosamente, o desejo de prevalência sobre o grupo familiar ou social. Não achava, ainda, porque ignorante das relações humanas, que era vergonhoso sofrer diante da grandiosidade da misericórdia divina. Se me tivesse ocorrido à época que Jesus havia padecido, talvez viesse até a desafiá-lo na dor.

Não preciso dizer que esse foi o mais grave problema que tive de resolver durante mais de vinte anos de Umbral. Foi muito difícil ceder à necessidade do arrependimento e do remorso, pois me considerava digno representante da masculinidade viciada.

Foi preciso que meus pais viessem expor a tese contrária, envoltos em copioso pranto, para me estremecerem as sólidas bases em que me apoiava.

A história da ascensão até este posto realizou-se em crescendo de lágrimas, quando chorei por três encarnações absolutamente secas. E não estou utilizando-me de hipérbole. Na verdade, pude conhecer as tais vidas anteriores, de forma que estabeleci a robustez da insensibilidade como linha mestra da existência. Só assim é que pude perceber que meu pai não poderia ter sido acusado de tudo. Poderia, sim, ter-me minorado esse aspecto, o mais cruel, da personalidade. Mas a vida estava ensinando a nós todos.

Graças a Deus, pude atender à solicitação do escrevente, que externou o desejo de que desenvolvêssemos o tema do título. Verdadeiramente, para serená-lo, devo dizer que as considerações que o levaram a tal pedido partiram de intuições que lhe passamos. Queira perdoar-me a mim e ao grupo.

Eis que estamos esclarecendo o fato, embora possa parecer desnecessário, em função do desconhecimento por parte dos leitores da motivação do tema, apenas para elucidar-lhes mais um dos procedimentos habituais dos espíritos, quando desejam transmitir aos encarnados os assuntos que julgam prioritários. Tal envolvimento do médium, contudo, pode fazê-lo desconfiar de que esteja interferindo nas comunicações. Assim, quando tal ocorrer, é bom que se peçam explicações aos que se comunicam, caso eles mesmos não tenham tomado a iniciativa.

Quando tudo é feito com honestidade e lisura, os laços de amizade se estreitam, por força da confiança recíproca adquirida. Mas, se, apesar de tudo, ainda assim houver algum estremecimento doloroso, devemos lembrar-nos de que sofrer não é pecado.

Orlando.

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