SALSICHINHA
Meu filho chegou em casa, exultante, abraçado a uma coisinha. Uma cadelinha do tamanho de um palmo. Já tem nome, mãe, é Branca Letícia, foi me dando a notícia. Pode deixar que eu cuido dela. Já viram, né? Rapaz, com escola e cursinho, cuidar de cachorrinho? Ainda mais em apartamento...
Branca não era branca, nasceu com pêlos acastanhados, aveludados, cor de mel. Chamaram-lhe assim por causa de um personagem em cartaz na televisão. Era, e ainda é, bonitinha. Mas nas primeiras noites, Deus do céu, não dormia de jeito nenhum. Tive que aconchegá-la, sabe onde? Junto a mim, dentro da manga do casaco.
Crescidinha, virou salsichinha. Igualzinha ao cachorrinho da Cofap. Não parava quieta, nem queria educação. Fazia xixi e cocô pelo chão, onde quer que estivesse. Na cozinha, na sala, no saguão. O jornal, que devia ser sua privadinha, era todo dia estraçalhado e esparramado.
Assim não dá, assim não dá, eu repetia a todo instante, até que não agüentei mais. Apesar da choradeira dos filhos, que dela não queriam se separar, levei-a para a casa de campo, onde mais tarde, também vim a morar.
Agora aqui convivemos em paz. Seu canto é o terraço e para as necessidades, lá fora tem muito espaço. Todas as manhãs, ao abrir a porta, ela vem logo me cumprimentar. Deita-se a meus pés, esperando cafunés. Late forte, é boa guardiã.
Mas... se eu me descuidar, lá vai ela, disfarçada, como quem não quer nada, a lata de lixo xeretar...
Beatriz Cruz |