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Contos-->O Papel e a Criança -- 23/11/2001 - 01:46 (Louise Brum) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A janela entreaberta permitia que os primeiros raios de sol iluminasse todo o quarto. Um perfume agradabilíssimo percorria e se alojava nas paredes suadas do lugar, onde se encontravam deitados, sobre um colchão velho, Luciano e Verona. Os dois dormiam como alguns anjos se permitem descansar. Vivificaram uma noite morta com a paixão que lhes roem o corpo, como o pecado que lhes consomem a alma. Luciano abriu os olhos com lentidão, levantou e sentou-se numa mesa de ébano que ficava próxima à janela. Passou alguns papéis sobre a mesa e pincelou algumas palavras, levantando-se um pouco atordoado, com os olhos murchos como flores que deixaram de ser regadas pelo amor. Lavou o rosto num tigela de bálsamo, em seguida, enxugando-o com um papel de ceda que estava sobre uma cadeira quebrada. Ficou estático por alguns minutos; seria impossível descrever o que se passava nos pensamentos do jovem, mas a sua expressão aterrorizaria quem quer que o visse naquele momento. Voltou-se para mesa, onde estavam os papéis pincelados como um obra de arte, e se pôs a beber o resto do vinho que o fizera penar ao amanhecer. Retirou-se alguns minutos depois.
Verona ainda dormia quando Luciano saiu.
Alguns pássaros recobraram a memória dos sonhos das ninfas que rodeavam Verona. Ela como por encanto, abria os olhos, varrendo o quarto à procura de seu último amor. Para algumas mulheres, o primeiro amor é sempre a última das paixões. Olhou todo o quarto com a sutileza de uma abelha à procura de mel. Não vira Luciano e aborreceu-se profundamente. Sentou-se no colchão olhando para janela( talvez tentando ver se via seu anjo subir aos céus), viu sobre a mesa, onde à pouco, Luciano se embebedara, uma carta e a garrafa de vinho emborcada, escorrendo todo o líquido. Levantou-se para almejar o que tinha feito o Luciano, ali, sentado, bebendo à ouvir os primeiros sons da alvorada. Ao aproximar-se da mesa, reteu o passo e parou no mesmo lugar onde Luciano, à pouco, consternara-se. Fez ela o mesmo. E percebeu o vulto das palavras que estavam escritas no papel. Por curiosidade leu uma, duas, três, infinitas vezes sem que pudesse deixar de murmurar o nome de Luciano. A cada vez que repetia a leitura, o seu seio ofegante, suspirava as lembranças da noite que tivera; os olhos derramavam lágrimas pesadas, derrubando nos lábios uma piedade maravilhosa. Ela chorava como um violino de Bach; sofria como Julieta...estava linda. As mulheres bonitas, quando estão tristes, provam que Deus as criou unicamente para o amor. Verona rasgou a carta e o jogou pela janela e se retirou.
Os restos da carta, caiam como pétalas de rosa. A viela abaixo se enchia das últimas palavras do sonho que Verona tivera e que Luciano representou. O vento facilitava a beleza do espetáculo e os raios do sol guarnecia de esperança os papéis como um beijo que nos dão quando somos crianças. Via-se tudo naquele momento. Uma borboleta que sobrevoava os prédios se admirou e acompanhou o balançar das folhas despedaçadas; um rouxinol chorou um canto de assustadora beleza e pousou perto de uma roseira; uma flor brotou. Outros animais se juntaram para observar; e a natureza nutria aquele momento da mais pura beleza, sem que um homem a percebesse.
Os papéis rasgados tomaram o chão. O sol foi acobertado por nuvens em seu maior esplendor. O vento se fez mais forte; algumas criaturas esconderam-se em seus próprios medos. Uma chuva tórrida, criou uma atmosfera cinzenta ao encanto do dia. Nada se via...nada. Uma criança que passava por ali, escorregou, caindo sobre o amontoado de folhas. Chorou de dor. Passou os olhos envolta de si e procurou a rosa que carregava nas mãos. Não a encontrado, voltou a chorar; mas agora não foi de dor. Sentou-se sobre a calçada, admirando a chuva que lhe caia sobre os longos cabelos e se misturava com suas lágrimas. Um sorriso pulou-lhe os lábios finos. Ficou fascinado.
A chuva cessou, restavam algumas gotículas no rosto do menino. Este por sua vez, rodeou o olhar, novamente envolta de si, afim de encontrar a rosa que levava para sua mãe. Viu um pedaço de papel, que à pouco, junto à vários outros, causara admiração à olhares curiosos. O garoto, por curiosidade, resgatou o pedaço de papel e pôs-se a ler. Via-se no rosto da criança, um desapontamento de causar nojo.
A criança murmurou:
- Eu te amo?
Sim, era o que estava escrito! Talvez as únicas palavras que Luciano escrevera para Verona. “Eu te amo”, era o resumo de toda uma vida.
O garoto levantou-se exasperado, amassou o papel e o jogou no lixo.

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