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Artigos-->Questão de fé, fé em questão -- 26/01/2004 - 09:37 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Onde você estava quando eu colocava os fundamentos da terra? Diga-me, se é que você tem tanta inteligência! Você sabe quem fixou as dimensões da terra? Quem a mediu com a trena? Onde se encaixam suas bases, ou quem foi que assentou a pedra angular, enquanto os astros da manhã aclamavam e todos os filhos de Deus aplaudiam?" Estas perguntas (Jó, 38, 4-7) Deus faz a "um homem chamado Jó, que vivia no país de Hus. Era um homem íntegro e reto, que temia a Deus e evitava o mal" (Jó, 1, 1-3). Esse homem foi vítima de uma aposta entre Deus e Satã. Deus confiava que o crente não O renegaria, e sujeitou o infeliz aos caprichos do demo só para mostrar o quanto sua fé era inabalável. Sofrendo, Jó faz alguns lamentos e Deus, então, lhe dirige as perguntas acima citadas.

Há quem diga que, no mundo, convivem duas realidades distintas: a realidade material e a divina. Realidades que não se confundem. Os argumentos de uma não servem para a outra, por isso a prática, se pode ser o critério da verdade para a realidade material, não serve de critério para o mundo divino. Neste outro mundo, o único critério é a fé. Como escreveu uma poetisa, "sou esotérica e creio. Sou fé. Não se explica. Não se adquire. Nasce dentro de uma bolha do universo e cresce abraçando o mundo. É. Questão de fé!"

Colocada dessa forma, não há contra-argumentação possível. E nem seria preciso argumentar coisa alguma, se fosse simplesmente uma opção de foro íntimo. Mas na realidade, ao menos na realidade material, essa na qual atuamos, trocamos opiniões, alteramos o ambiente, construímos e destruímos a sociedade que nos cerca, nesta realidade o próprio surgimento da fé é histórico, datado, socialmente dado.

A fé não propicia o consenso sobre o que é verdade. Os que têm fé se organizam em variadas seitas e religiões — nesse outro mundo não há critério consensual e nem comprovação possível para nada. Interessante notar que, cada vez que um crente ou ser divino quer provar alguma coisa, refere-se a este mundo cá de fora, onde vivemos todos, crentes e não crentes. No livro de Jó, todas as perguntas feitas por Deus referem-se a este nosso mundo material, onde a prática tem sido critério supremo e milenarmente comprovado da verdade. Mundo onde pesquisamos, com "tanta inteligência", os fundamentos e dimensões da terra, medimo-la, buscamos onde se encaixam suas bases e se existe alguma pedra angular, enquanto os astros da manhã aclamam e todos os filhos de Deus aplaudem.

No Brasil e nas Américas, a fé predominante é judaico-cristã e os livros religiosos mais divulgados são a Bíblia e o Novo Testamento. Questão de fé? Não. Antes dos europeus, o continente era povoado há dezenas de milhares de anos e não existiam na região, até o século XV, cristãos ou judeus. Chegaram com os conquistadores, que impuseram sua fé aos nativos. O processo foi tão violento que centenas de anos depois, no fim do século passado, o chefe supremo da Igreja Católica Apostólica Romana, João Paulo II, pediu desculpas,pelos excessos cometidos, aos descendentes dos que sobreviveram.

Geralmente os fiéis assumem a religião de seus pais, que lhes é transmitida desde a mais tenra infância. É raro um crente, ao chegar à idade adulta, analisar todas as religiões existentes, verificar qual a que mais atende aos seus anseios e então se converter. Muitos mudam de religião motivados por interesses bastante terrenos: adotam a crença do cônjuge, ou a da localidade onde residem, ou a da moda. Outros preferem elaborar uma religião própria, amalgamando preceitos de várias crenças, mas sempre com uma vertente principal (Cristo, Buda, Maomé, Javé, Tupã, Shiva...) e no mais das vezes esta vertente é fundada na religião dos pais ou da região onde vive o "seguidor único".

Quando os argumentos deste mundo não batem com os dogmas do "mundo de lá", a conclusão (ou indução) é enganosa e, portanto, falsa. A lógica do "ver para crer" é descartada, por princípio. A ela não é contraposta outra lógica, mas "a fé". E ai de quem duvidar! — como as milenares disputas ideológicas e religiosas demonstram. O cientista Douglas Adams afirmou que a invenção do método científico é "a moldura mais poderosa para o pensamento, investigação, entendimento e para desafiar o mundo à nossa volta que existe. Ela se baseia na premissa de que qualquer idéia existe para ser atacada. Se ela sobrevive ao ataque, então ela vive para lutar num outro dia. Se ela não sobrevive, desaparece. A religião parece não funcionar dessa maneira. Ela certamente tem idéias em seu âmago que chamamos de sacras, sagradas ou o que quer que seja. O que isso significa é que há uma idéia ou noção que você não tem permissão para criticar; simplesmente não tem. Por que não? Porque não! ". A fé basta-se. Mas não basta para que os humanos enfrentem suas adversidades e construam uma vida digna e em consonância com as exigências do mundo que os circunda. Infelizmente, não raras vezes dificulta, com seus preceitos e preconceitos, a construção desse mundo.

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