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Cronicas-->De Mariana a Washington... -- 22/03/2000 - 15:34 (Ronaldo Cagiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
De Mariana a Washington,
passando por Calingasta

Ronaldo Cagiano

O sentimento do mundo - de que tanto nos falou Drummond, que mais do que o poeta de Itabira, foi um filósofo das pequenas verdades quotidianas - parece dominar grande parte da literatura, embora muitos negligenciem o valor da simplicidade no escrever, em lugar do pedantismo com que muitos laboram no ofício da poesia ou da prosa. Nesse campo, ninguém pode esquecer a lúcida oficina verbal de Rubem Braga, o sabiá-mor da crónica brasileira. Ele, como poucos em sua artesania, soube colher na mesmice quotidiana pérolas de indizível matiz estético, coroando de êxito sua trajetória de escritor e jornalista. Nelson Rodrigues, não menos. Com sua dose, às vezes de ironia sentenciosa ou de puro realismo nada fantástico, com que trasladava a (crua) ambiência social e humana dos cariocas para suas Cronicas, soube, motu proprio, engendrar com objetividade, e sem empáfia, o seu laboratório criativo, legando-nos obras de inestimável primor.
Na órbita mais recente, embora sua produção remonte há mais de três décadas, vejo na obra de Danilo Gomes (tanto como articulista, quanto como poeta e cronista) indícios desse sentimento do mundo, tão vital à compreensão, pela via especial da literatura, do nosso dia-a-dia, desse quotidiano cheio de (in)verdades, com seus escaninhos e multifárias lutas do homem. Falo de um cronista que empresta muito de poesia à sua confecção, ao seu diálogo permanente com a vida, expressão que se constata facilmente em sua permamente e visceral ligação com o mundo, reflexo de uma sintonia com a realidade, impregnando de lirismo, fino humour e cristalinidade tudo o que escreve. Em meus contatos diários com este filho de Mariana, a mais antiga cidade mineira, tenho apre(e)ndido o melhor. Não raras vezes, desço à sua sala no 2º andar do Palácio do Planalto, para com)partilhar a produção do dia, numa costumeira troca de figurinhas literárias. São artigos, poemas, crítica literária, endereços de escritores, epistolografia - enfim, um vasto universo do ler e escrever - que norteiam nossas conversas, seja no restrito ambiente de nossas lides funcionais, seja no recesso do almoço. E neste, as iguarias se alternam entre um e outro pitéu, que saem das páginas de um Alphonsus de Guimaraens, de um Afonso Frederico Schmit, de um Tomás António Gonzaga, de um Camões, de uma Cecília, de uma Henriqueta Lisboa, de um Rosário Fusco, de um Antonio Olinto, de tantos quantos habitam o inigualável e apetitoso cardápio que remonta às nossas ancestrais experiências literárias.
O vate de Mariana traz consigo uma formação sólida, a herança das Gerais, com sua caleidoscópica signagem. E da família remanesce sangue estético da melhor pipa: seus irmãos Daniel e Duílio Gomes - o primeiro, experiente articulista de esportes; o segundo, cronista de nomeada, ambos há anos pontificando nas páginas do Estado de Minas - vêm confirmar a trajetória dos Gomes, desde o primeiro a chegar com a esquadra de Cabral, de contínua e riquíssima projeção cultural.
O cronista Danilo Gomes é daqueles que não se impressionam com o fausto, nem com o infortúnio, faz da arte seu exercício de extrapolação das próprias contingências humanas para reafirmar a nossa condição de meros espectadores do cenário, porque engrenagens que, sozinhas, não somos capazes de movimentar nada. Captamos em sua oficina criativa um autor sintonizado com o seu tempo, sem, contudo, fazer cavalo de batalha da fama, que esta é ocasional e fugaz, nem, tampouco, esbravejar contra o infortúnio, que este é transitório e olvidável. Com a mesma transparência que relata sua ida a Washington ou Montevidéu (nas missões precursoras de FHC), com não menos sutileza ou rigor de estilo descreve sua ida a Aparecida do Taboado, nos confins do Mato Grosso ou transpõe utópicas viagens a Calingasta, seja sob o torpor do Vesúvio ou no tumulto barroco dos lençóis. E sua prosa desliza com o mesmo apuro, tanto quanto escreve para o Correio Braziliense, para o Estado de Minas, para um boletim associativo ou para o desconhecido Jornal de Parapuã. O escritor põe-se por inteiro, numa ou noutra tribuna, seja falando dos antigos cafés do Rio de Janeiro, ou recriando a infància às beira do Catete, pequeno tugúrio da sua cidade. Isso me faz lembrar o insuperável Tolstói, que foi universal falando da sua aldeia, do seu quintal. Ou, de Cassiano Nunes, que, estimulando aos novos e reafirmando a virtude dos medalhões, conferenciou na Sorbone e no Sindicato dos Padeiros de Santos. Eles sabem prestigiar as coisas, as pessoas, os lugares, sem desprezo ou soberba.


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