Recomendamos ao médium que repouse das tarefas mediúnicas por quinze dias, pondo as tarefas caseiras em ordem. Após tal período de tempo, reassuma ao posto e venha com ares novos, pois o trabalho adquirirá contornos de superior atividade, no que respeita ao volume e à importància. Você trabalhou por mais de três anos e meio seguidos e merece férias, para recomposição espiritual.
Sabemos que as recomendações podem parecer até prejudiciais para quem não se sente, deveras, estafado ou elanguescido. Ao contrário, até parece que o aviso conseguiu despertar o interesse em prosseguir, sem solução de continuidade, pelo medo de, primeiro, estar sendo levado por informações dúbias, provindas de espíritos não dotados de senso de responsabilidade, tendo em vista a importància das tarefas mediúnicas; e, segundo, porque a paralisação poderá significar tão-só a leitura interna de sentimento de preguiça, gerado pelo fato de as comunicações se fecharem em si mesmas, não obtendo a categoria necessária estabelecida pelos critérios de publicação.
Eis os avisos e temores que recebemos em nossa vida de retransmissores de mensagens espirituais. A bem da verdade, não foram as comunicações redigidas exatamente assim, pois estamos adaptando-as para o impacto das notícias no cérebro do escrevente, no intuito de torná-las o mais realistas possível. No entanto, de qualquer forma, expressaram, de modo assaz vigoroso, o desejo espiritual de que nos mantivéssemos ausentes da mesa evangélica, pelo tempo de quinze dias.
Como sempre fomos muito obedientes à s determinações dos instrutores, afastamo-nos do trabalho no período designado. Ao retornar, encontramos exatamente os mesmos espíritos, dando continuidade aos mesmos textos e à s mesmas comunicações de sempre.
Estranhamos, sobremodo, pois entendêramos que iríamos obter informações mais sérias, com conhecimentos mais profundos. Aspirávamos, até, a que a formulação das idéias se revestisse de maior elegància e precisão vocabulares, no sentido de que a linguagem a ser aplicada tivesse laivos da grandiosidade literária dos clássicos.
Nada disso ocorreu e nos pusemos na defensiva, crentes de que havíamos sido logrados por algum ser jocoso, que se divertiu conosco, ao mesmo tempo que nos incentivou a imaginação e a fantasia.
Ao interrogarmos o orientador particular, exigimos explicações bastante claras a respeito da veracidade dos informes anteriormente colhidos, especialmente os relativos à importància e ao volume das mensagens.
Com que surpresa vimos a pena deslizar por sobre a folha, dando-nos o sentido correto das proposições: era preciso que reconhecêssemos que o que vínhamos colhendo do plano espiritual era precisamente o conteúdo que tínhamos condições de assimilar, bem como a forma correspondia ao estilo próprio da personalidade, enquanto imantado estivéssemos, uma vez que, do entrosamento entre os campos energéticos, é que brotavam os textos que o punho registrava, de modo até que bem célere. Estavam satisfeitíssimos com o trabalho, mas consideravam o trabalhador fortemente ambicioso.
Tal aviso foi de importància transcendental para a continuidade que imprimi ao fenómeno da mediunidade. A partir daquela época, transformei-me internamente e passei a considerar de suprema responsabilidade qualquer leve apanhado de informações, mesmo as que viessem eivadas de sofrimentos e de dor, desequilibradas por anos a fio de loucura e de solidão.
Aqueles quinze dias não tiveram o condão de um despertar, não promoveram qualquer renascimento moral ou intelectual, não causaram nenhum rebuliço sentimental. Estive, fielmente, cumprindo o conselho dos cuidados com os deveres pessoais de pai de família e de cidadão. Pus as contas em dia, consertei alguns apetrechos deteriorados, passeei com os familiares, gozei do repouso estabelecido como merecido. Dei curso à s recomendações e segui as instruções ao pé da letra.
Mas o período posterior, a partir da mensagem provocada pela incompreensão dos objetivos mais sutis da pregação pessoal, foi decisivo para o restante da jornada, penetrando-me tão profundamente no íntimo do ser que, após o desenlace, ainda sentia os bons efeitos da aplicação das diretrizes que o instrutor me passou. Foi como se, realmente, houvessem ocorrido aquelas transformações anunciadas na mensagem do descanso merecido.
Venho, em meu nome, oferecer o registro dessa significativa passagem de minha vida, para o despertar dos leitores, em particular dos que se dedicam ao sagrado dever mediúnico. Claro está que incluo o nosso laborioso escrevente, mas prefiro pensar naqueles que se iniciam nos estudos da mediunidade, pois pode parecer-lhes que todas as informações não catalogáveis dentre os modelos oferecidos por Kardec ou publicados através da psicografia de diversos médiuns de renome sejam perigosas e contenham duplo significado, sendo o segundo maléfico, pernicioso ou, simplesmente, malicioso.
Se tivesse, na ocasião, maior discernimento, embora falhasse na conceituação do ministério de amor e sacrifício que representa o mediunato, teria suspeitado de que as recomendações quanto ao descanso tivessem o sentido mais alto da orientação doutrinária do mediador e, por certo, solicitaria imediatos esclarecimentos.
Sirva esta página de apoio para as reflexões destes novos amigos, pois pretendi transformar mera experiência pessoal em ensinamento, em que não faltaram a exemplificação e as considerações secundárias. Caso tais novéis proponentes ao mediunismo tenham considerado o texto de difícil intelecção, imaginem-se com o lápis na mão a escrevê-lo de carreira, num jato, sem interrupções, íntegro, com a só correção de algumas expressões, para que a frase ganhe em fluência e precisão. Não é aventura digna do desafio que consiste no relacionamento com a espiritualidade?
Para finalizar, após o que escrevemos, julgamos que todos devem estar de acordo com a necessidade do descanso dos médiuns que, diuturnamente, se colocam à disposição para o trabalho, exceto para retornarem melhor preparados para maior volume e aprimoramento conceitual. Que cada qual coma o seu pratinho de feijão com arroz, porque será o sal da vida que lhe dará o prazer da refeição.
Lázaro.
Post scriptum
Solicitamos ao escrevente que não exerça o direito de alterar as imperfeições deste texto, acondicionando-o de maneira diferente da embalagem ora utilizada. Corrija só as falhas ortográficas e dê aos verbos a precisão dos tempos e modos, conforme o espírito da língua portuguesa. O mais, preserve exatamente como está, pois desejamos que os leitores conheçam os efeitos das transmissões deste tipo de comunicação, sem qualquer artificialismo literário posterior, mesmo no que se refira à s simples mudanças lexicais, para se evitarem repetições. Agradecemos muito pela gentileza da atenção.
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