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cronicas-->Aloissia -- 02/08/2001 - 20:32 (Armando A. Barraca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aloíssia pertencia ao "reino do não pode".
Mão no ombro - não carece. Cochicho no pé do ouvido - "Crêm" Deus Pai! Bolinar no joelhinho - Virgem Santa, nem pensar!
Bonita, Aloísia com seus traços virginais passava andando retesada, sempre retesada, no seu habitual vestido com estampa de flores miúdas. Nem de leve, sorriso nos lábios sem tinta.
- Catita! Compra maçã da minha barraca! - O riso cheio de falhas da boca do feirante afugentou Aloísia para longe, bem para lá da barraca das bijuterias e das bugigangas, que era a última coisa que se podia encontrar nos confins daquela feira de meio de semana.
O sonho secreto de Aloísia era ser noiva de alguém. Casar de branco que nem a avó, com direito a flor de laranjeira e chuva de arroz na saída da igreja, para dar sorte na vida a dois.
E a lua-de-mel? Aloísia afogueada espalhava com as mãos os pensamentos quentinhos, que teimavam em querer furar sua quietude, sua honradez de moça.
"Prefiro morrer, Deusinho. Prefiro sangrar os joelhos nos bancos duros da igreja a deixar que tamanha tentação me invada."
Quanto vale a honra de uma moça? Um punhado de ouro, uma maleta de dólares americanos ou uma escorregadela?
Finório limpou os beiços com a manga da camisa e pediu para que Aloísia lhe demonstrasse todo o seu amor.
A tinta vermelha foi tingindo cada célula do rosto da donzela, que por fim numa reação inusitada, rompeu a chorar.
- Pensa que eu sou dessas?
- Não, não é isso, Aloísia, é que morro de paixão por você. Fico louco, um arrepio medonho me rompe desde o dedão do pé e vai subindo e pára lá, você sabe onde... Não posso continuar assim, eu necessito de pelo menos uma demonstração do seu amor, menina.( pauduro)
Não com ela. Indignada, empertigada, Aloísia calcou os pezinhos nervosos no chão e foi cheia de glória ser infeliz no escuro de seu quarto.
Quanta dor! O salário de se manter uma dignidade intacta estava sendo alto demais para ela. Mas mesmo assim, resistiria. Seria a última donzela do mundo, nem que para isso precisasse contar com todas as milícias celestiais, amém.
No meio da noite, os beiços grossos do Finório derrubaram-na da cama. Sonhara? Evidente que sim. Finório - em pessoa - jamais poderia colocar seus pés desajeitados na brancura imaculada daquele quarto, sem o consentimento de sua ocupante.
A virgem abriu o sorriso e abraçou os joelhos. "Imaculada como Maria, que privilégio, hein?" Ela seria um belo prêmio para o homem que a merecesse. Finório? Talvez, se ele conservasse aquelas mãos a pelo menos meio metro de distància.
Finório trabalhava com caminhão, carregamento de cargas. No sol do meio-dia, lá estava ele erguendo do chão pesados engradados para depositá-los nos caminhões, que partiam da cidade carregadinhos.
No sol do meio-dia reluziam os ombros largos do rapaz. Ele era espadaúdo, dissera certa vez a menina da banca de jornal com olhinhos brilhantes de prazer.
"Capivara" - Aloísia acessou seu pensamento de desprezo, deitou-se e virou-se para o lado da parede.
"Espadaúdo." E o calor insuportável fez com que Aloísia atirasse para longe o cobertor. Os lábios do Finório... que coisa! Não adiantava cobrir os olhos com o travesseiro, aqueles lábios continuavam lá, luzidios, sugerindo uma maciez de veludo, uma umidade quente, um túnel excitante.
"Que droga de dia que não nasce!" - E Aloísia irritada abandonou a cama para buscar na cozinha um copo d água. Começou a tocar-se e sentir o gozo do qual nunca fora permitida sentir.
Dali a algumas horas, ela estaria de novo encoberta pelo vestido de estampa de flores miúdas, andando pelas ruas do bairro com seu rosto sério, retesada pelas leis morais da boa conduta, escondendo de todos - e até de si mesma -escondia a piranha desvairada e possuidora de um tesão incontrolável, desses de tirar o sono... dos outros!
que sobre as cinzas de sua vida tão chata, ocultava-se uma exuberante criatura, talvez a mais arrebatadora das amantes.

Fez sexo e gosou por muitos anos e depois morreu.
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