No bairro dos adjetivos o aspecto das ruas era muito diferente. Só se viam palavras atreladas. Os meninos admiraram-se da novidade e orinoceronte explicou:
-Os Adjetivos, coitados, não têm pernas; só podem movimentar-se atrelados aos Substantivos. Em vez de designarem seres ou coisas, como fazem os Nomes, os adjetivos designam as qualidades dos Nomes.
(...)
-As palavras não param – observou Quindim. Tanto os homens quanto as mulheres (e sobretudo estas) passam a vida a falar, de modo que a trabalheira que os humanos dão às palavras é enorme.
Nesse momento uma palavra passou por ali muito alvoroçada. Quindim indicou-a com o chifre,dizendo:
-Reparem na talzinha. É o Substantivo Maria, que vem em busca de Adjetivos. Com certeza trata-se de algum namorado que está a escrever uma carta de amor a alguma Maria e necessita de bons Adjetivos para melhor lhe conquistar o coração.
A palavra Maria achegou-se a uma prateleira e sacou fora o Adjetivo Bela; olhou-o bem e, como se o não achasse bastante, puxou fora a palavra Mais; e por fim puxou fora o Adjetivo Belíssima.
-A palavra Mais forma o Comparativo, com o qual o namorado diz que essa Maria é Mais Bela que tal outra; e com o Adjetivo Belíssima ele dirá que Maria é extraordinariamente bela. E desse modo, para fazer uma cortesia à sua namorada, ele usa dois Graus do Adjetivo. Partindo da forma normal que é a palavra Bela, usa o Grau Comparativo, com a expressão Mais bela, e usa o Grau Superlativo, com a palavra Belíssima.
-Mas nem sempre é assim – observou Emília. Lá no sítio, quando eu digo Mais Grande, Dona Benta grita logo: “Mais grande é cavalo.”
(*)Monteiro Lobato, em Emília no País da Gramática