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Cronicas-->QUEM ESPERA SEMPRE ALCANÇA -- 03/08/2001 - 02:17 (Débora Veroneze) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
QUEM ESPERA NEM SEMPRE ALCANÇA

Fernando conheceu Michele no cinema. Ele estava na última fila quando, após vinte minutos de sessão, sentou-se ao seu lado uma moça que, pelo fato de ter chego atrasada, fazia perguntas sobre o que tinha acontecido até então. Apesar do escuro, Nando percebeu a beleza de Michele e, quando o filme estava terminando, convidou-a para jantarem juntos.
-Você espera um pouquinho? - pergunta Michele apontando para o banheiro.
-Claro! Fique à vontade!
Ele se sentou num banco e esperou. E esperou. E esperou. Muitas mulheres saíam por aquela porta, menos Michele. Já estava ficando preocupado. Será que ela passou mal? Será que desmaiou? Será que saiu e eu não vi? E enquanto sua cabeça fervia tentando achar uma explicação, ela surgia na sua frente, ainda mais bela. Caminhava em cima daqueles saltos como se estivesse nas nuvens, seus cabelos balançavam de acordo com os passos que dava, seus olhos azuis eram de ofuscar quaisquer outros, sua boca, agora mais vermelha, sorriu e perguntou:
-Demorei?
Fernando não teve coragem de ser sincero com aquela perfeição de mulher que vinha em sua direção. Baixou as duas pálpebras e, com expressão de felicidade, balançou horizontalmente a cabeça, gesticulando que não.
Ambos concordaram em trocar o jantar por petiscos e choop num barzinho aconchegante que Michele frequentava.
A noite foi agradável, regada a risadas e descobertas. A atração era recíproca e resultou num beijo e na troca de telefones.
Eles começaram a se encontrar com frequência e o resultado disso foi o namoro. Fernando nunca sentira algo parecido antes. Estava apaixonado. No entanto, alguma coisa em Michele o incomodava muito: a demora. Ela era muito lenta. Porém, Nando fazia o possível para não se irritar. Pesava os prós e contras do relacionamento e os prós sempre ganhavam. Depois de alguns meses de cultivo desta paixão, Fernando decidiu que pediria Michele em casamento. Preparou tudo com o maior cuidado. Reservou uma mesa no restaurante D´elon, contratou músicos para tocarem durante o momento e comprou um anel de brilhantes. Estava realmente disposto a passar o resto da sua vida com esta mulher maravilhosa.
-OK! Amanhã eu te pego as dez para passearmos no parque. E lembre-se: passaremos o dia juntos - fala Nando, já com segundas intenções.
No dia seguinte o interfone toca exatamente dez horas (a pontualidade era marca registrada do namorado).
-Quem é? - atendeu Michele.
-Sou eu! Você já está pronta?
-Não! Sobe um pouquinho. Sairemos em dois minutos.
Nada disso era surpresa para Fernando. Também sabia que os dois minutos dela referiam-se na verdade, a pelo menos trinta. Ele subiu e percebeu que Michele ainda não saíra do quarto. Tinha prometido a si mesmo que, naquele sábado, tudo seria especial. Então, enquanto a futura noiva terminava de se vestir, ele arrumava a mesa para o café da manhã. Seu intuito era agrada-la desde de cedo mas, no fundo da sua paciência, sabia que este gesto também serviria para que a amada não demorasse tanto.
-Michele! O café está pronto! - berrou Nando lá da cozinha.
-Já vou!
Fernando senta no sofá, liga a TV e espera. Após quinze minutos, Michele surge do quarto:
-Você também vai comer?
-Não! Já comi em casa.
-Então senta comigo, enquanto isso a gente conversa.
Os dois seguiam conversando enquanto Michele fazia seu desjejum, que consistia apenas num pãozinho francês com queijo branco e uma xícara de café. Meia hora depois ela terminou.
-Agora vamos?
-Só um minuto! Preciso retocar a maquiagem.
-Não precisa! Você está linda! - elogia o namorado, tentando evitar que ela entre novamente no banheiro.
-Obrigada! Mas vou passar um batom mesmo assim.
Fernando recolhe toda a mesa, lava a pequena louça e nada de Michele aparecer.
-Vamos! - insistiu novamente - Já são onze e meia.
-Calma! Prá que a pressa? Não temos compromisso com ninguém.
-Eu sei meu amor, mas é que já estou esperando à uma hora e meia.
-Estou indo, estou indo! - responde ela enquanto caminha com passos largos e coloca a última bugiganga na bolsa que já comporta outros trinta e cinco objetos.
Já dentro do carro:
-Aonde vamos?
-Hoje é um dia muito especial! Gostaria que fóssemos ao cinema onde nos conhecemos.
-Acho a idéia ótima, mas dia especial por quê?
-Surpresa! À noite você saberá!
O casal chega ao shopping às 12h30min. A próxima sessão será somente às 14h. Aproveitando a ocasião, eles tomam um suco e passeiam visitando algumas lojas.
-Olha que calça linda!
-Quer provar?
-Eu adoraria! Será que temos tempo?
-Claro meu amor! Temos mais de uma hora!
Cinquenta e cinco minutos depois:
-Qual você gostou mais?
-Todas ficaram bem!
-Ah Nando! Dê sua opinião!
-Não lembro qual ficou melhor, você experimentou mais de dez.
-Mas estou em dúvidas sobre qual levar.
-Você tem mais quinze minutos para decidir!
-Tá bom! Enquanto isso compre os ingressos para a próxima sessão.
-Certo! Daqui a pouco nos encontraremos na porta do cinema.
Três horas depois:
-Não entendi o filme! Afinal, a Linda era esposa ou amante do John?
-Eu também não sei, mas poderemos perguntar para alguém que tenha assistido o filme por inteiro.
-Você acha que esta explicação estava no inicio?
-Com certeza na primeira meia hora que perdemos.
-Demorei tanto assim?
-Sim!
-Desculpe, mas é que eu não conseguia decidir qual calça era mais bonita.
-Tudo bem! Qual você comprou?
-Nenhuma!
-Nenhuma?
-Fiquei na dúvida e não comprei nenhuma.
-Como é que você consegue ficar tanto tempo numa loja e não comprar nada?
-Ai Nando, não fique bravo por tão pouco.
-Tá bom, tá bom! Vamos passar na loja de CDs que eu quero comprar o último do Sting.
-Legal, eu também quero um CD de MPB.
Uma hora depois:
-Não escolheu ainda Michele?
-Não sei se levo Caetano, Djavan ou Chico. Vou ouvir mais um pouco.
-Não! - berra o namorado ao mesmo tempo em que leva a mão direita à testa.
-Por quê não?- pergunta a namorada com os olhos arregalados.
-Porque presentearei você com todos os três.
-Ah! Obrigada!
Fernando respira aliviado. Uma espera a menos.
-Vou ao banheiro!
-Tá bom! Aguardarei na "casa do café".
Nando, já acostumado com a demora da mulher amada, comprou uma revista e sentou-se para tomar um café. Desta vez, o entretenimento com a leitura fez com que a espera fosse menos cansativa.
-Já?
-Você está me gozando?
-Não, realmente nem percebi o tempo passar.
-Aonde iremos agora?
-Ao melhor restaurante da cidade!
-Sério? E eu estou bem vestida para isso?
-Você está ótima.
-Nando! O lugar é maravilhoso!
-Calma, o melhor ainda está por vir.
A recepcionista acompanhou o casal até a melhor mesa do lugar, eles escolheram a comida e jantaram a luz de velas. Ou melhor: Fernando jantou e aguardava ansioso pelo momento em que Michele terminasse o seu jantar para que os violinistas entrassem e ele pudesse finalmente pedir a namorada em casamento. A espera era árdua, ela comia muito devagar. Parecia escolher os grãos de arroz que colocava em seu garfo. Nando tomava uma taça de vinho atrás da outra. Estava nervoso com o momento, tenso com a demora e quase bêbado. O garçom fazia sinal a cada instante para perguntar se os músicos poderiam entrar e ele só balançava a cabeça, gesticulando discretamente que não.
Finalmente a hora estava chegando. O prato estava quase vazio, faltava apenas meia azeitona sem caroço. Seria só ela colocar aquele pequeno pedaço de comida na boca e ele poderia fazer gestos para que o momento tão esperado acontecesse. Então Michele pegou a meia azeitona com o garfo e, para desespero de Nando, ela também pegou a faca.
Lentamente a meia azeitona foi cortada. Apenas um terço do meio pedaço foi levado até a boca. Nando não acreditou. Ela mastigou como se estivesse comendo um grande pedaço de carne. Ele aguardou. Ela engoliu. Ufa! Agora faltava só mais um pouquinho. Ela pegou o garfo. E também a faca. Nando não aguentou. Entrou em desespero. Pànico total.
E num gesto alucinado, levantou-se bruscamente, saiu correndo e gritando:
-Não! Não! Isto não é possível! Agora já é demais! Meia azeitona não pode ser cortada em três pedaços. Eu desisto! Chamem um táxi! Adeus!




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